terça-feira, 7 de setembro de 2010

O CRISTÃO NA POLÍTICA (3)


·         É correto um cristão ser político?
A política, ou o sistema político no Brasil tem enfrentado sérias críticas da população já desde algum tempo. Essas críticas foram mais ferrenhas na atual gestão do governo em decorrência das denúncias de corrupção tais como o escândalo do mensalão e a Operação Satiagraha (dentre outras). Entretanto, a desconfiança da sociedade com a política no Brasil acelerou-se com o confisco do Plano Collor (ou talvez até antes).
É comum ouvirmos a frase de que “todo político é corrupto”. Mas, diante dos fatos e atitudes que vemos ao nos aproximarmos das regras comuns na política, eu diria que o “sistema” está corrompido.
Nesse período eleitoral, os candidatos que concorrem à eleição pela primeira vez conclamam os eleitores a votarem na “renovação”, assegurando nos discursos que, se chegarem lá, mudarão a forma de fazer política. Contudo, o que percebemos é que, ao adentrarem no sistema, são moldados à ele pois, a fôrma já está feita e para assegurarem suas propostas e projetos precisam se ajustar àquela fôrma. Mancomunando-se com o sistema político corrupto, o político sincero com desejo de promover mudanças acaba ficando de mãos atadas, e para não perder a chance de reeleição, ele se adéqua ao sistema.
É exatamente esta leitura que tenho feito da política hoje no Brasil, o que se agrava cada vez mais, a cada processo eleitoral. Considerando que a vida cristã está baseada em padrões morais divinos expressos na Bíblia Sagrada, se compararmos as práticas do sistema político hoje com o que a Palavra de Deus ensina, fica claro que não dá pra participar desse sistema político e ao mesmo tempo ser um cristão íntegro.
Reitero isso que afirmei chamando a atenção para os salários exorbitantes, os auxílios “isso e aquilo”, a verba indenizatória e de gabinete, e outras práticas legais, porém não moralmente cristãs.
Num país como o nosso, onde a desigualdade social é imensa, os rendimentos dos trabalhadores são mínimos, além das necessidades de investimentos em educação, saúde e segurança, há os desvios da arrecadação a partir dos impostos pagos por cada um de nós, e esses desvios são endereçados aos custos com os nossos políticos (inclusive para os que se dizem cristãos).
Em 2006 os parlamentares aumentaram o próprio salário de R$ 12.850,00 para R$ 24.500,00.1 E além desse salário, os senadores e deputados já estavam recebendo auxílio moradia de R$ 3 mil, verba indenizatória de R$ 15 mil, verba de gabinete de R$ 50.915,00 valores  de passagens ida e volta para seus estados e cota postal e telefônica de R$ 4.268,00. E não é só isso, o efeito cascata faz com que os salários dos deputados estaduais e vereadores também sejam reajustados.
De acordo com estudos da ONG Transparência Brasil2 os parlamentares brasileiros são os mais caros do mundo. Por ano cada senador custa R$ 33 milhões, e um deputado R$ 6 milhões e 600 mil. Este sistema é legal, porém é importante se questionar: É ético? Está de acordo com os valores cristãos?
Os princípios bíblicos de igualdade e justiça (2 Sm 8.15; Rm 2.11; 2Co 8.14; Cl 4.1; 1Pe 1.17), de amor e caridade (Rm 13.10; 1Co 13.4-7) não são observados na nossa política. Então, como um cristão pode participar desse sistema e permanecer íntegro?
Repito: há práticas que são legais, porém não são moralmente cristãs.
Alem disso, há uma prática anticristã configurada da seguinte forma:
Quando os políticos ajudam as pessoas, sempre estão buscando algo em troca. Nas igrejas evangélicas não é diferente. Se um político doa alguma coisa para a igreja, numa festividade, numa construção, num evento, por exemplo, ele acha que aquela igreja lhe deve favor e têm que votar nele. Essa mentalidade, além de interesseira, é mesquinha. Jesus alertou para isso, mostrando que os que assim agem “... já receberam o seu galardão” (Mt 6. 1-4). Usar a igreja para fins políticos é perigoso, é um assédio à noiva do cordeiro, a menina dos olhos do Senhor (Zc 2.8; Ap 21.9).
O pastor e escritor Paulo Romeiro, em sua introdução ao livro Evangélicos em Crise, dá-nos um alerta concernente a isso quando escreve: “A igreja brasileira convive há tempos com práticas antiéticas. A própria CPI do orçamento em 1993 revelou o comportamento nada correto de organizações e políticos evangélicos, mostrando claramente que muitos deles, embora possuidores de um discurso de ouro, têm os pés de barro. O envolvimento de muitos evangélicos na política brasileira tem trazido mais prejuízos do que benefícios para a imagem da igreja. Isso tem gerado um clima de suspeita na sociedade em relação aos chamados “crentes”. Não são todos os brasileiros que estão dispostos a confiar em alguém só porque carrega uma Bíblia ou diz ser evangélico.”3.
É por esses e outros motivos que não voto num candidato cristão. Creio que se votasse, estaria contribuindo para que ele se desviasse dos padrões morais e éticos exarados nas Sagradas Escrituras. E também não voto em quem já está no sistema. Sempre darei meu voto a quem ainda não está no sistema, não é corrupto, e tem propostas de mudança do sistema político atual.
Na hora do voto, devemos estar atentos às recomendações bíblicas:
“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da CORRUPÇÃO do mundo.” (Tg 1.27 Grifo meu).
 “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da CORRUPÇÃO, que pela concupiscência há no mundo.” (2Pe 1.3-4 Grifo meu).

Fontes:
3 ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. São Paulo: Mundo Cristão, 1999. Pag. 11.