quarta-feira, 1 de março de 2017

Criacionismo x Evolucionismo: o lugar da fé e da razão

Quando se utiliza o termo “fé” ou “crença” para algum posicionamento cristão em ambientes acadêmicos ou mesmo em discussões corriqueiras sobre temas que envolvem dados históricos, científicos e filosóficos, ainda é comum a noção equivocada de que a fé dispensa qualquer explicação racional para sua apresentação, tendo em vista a não percepção de que existe distinção entre fé e fideísmo. Como posição teológica que despreza a razão e recomenda a estrita fundamentação da verdade na fé, o fideísmo se esquiva de argumentações que apoiem a crença e despreza os exercícios racionais para a fé cristã. Aqui se estabelece um problema que contradiz o próprio fideísmo: ele é apresentado a partir do uso da razão para dizer que a razão não alcança as questões de fé elaboradas racionalmente porque foram pensadas. E um outro erro comum está no exagero de colocar todas as afirmações da metafísica cristã no fideísmo, que em suma seria “a fé na fé”. Há muitos cristãos que não se conformam com a frase “creio porque creio” e buscam os dados relevantes nas áreas do saber que apoiam com evidências suas crenças. Como exemplo, temos o estudo da origem do universo e do homem, notadamente exposto nas vertentes criacionista e evolucionista.
As características que são encontradas em Deus, por exemplo, são percebidas por aqueles que se dispõem a isso, tanto por Sua revelação na criação, na consciência humana, na Bíblia Sagrada e em Jesus Cristo. Quando o argumento cosmológico para a existência de Deus apresenta uma causa para a origem do universo – as premissas (1) tudo que começa a existir tem uma causa; (2) o universo começou a existir, e (3) o universo tem uma causa – o cientista se arvora em dizer que essa causa é simplesmente algo, e não Deus. Mas, assim como é confortável para o cristão colocar Deus no lugar de ALGO, é confortável para o cientista colocar o ALGO no lugar de Deus. Porém, quando desconhecemos qualquer argumento a favor de qualquer coisa, é coerente buscarmos conhecer. Pela própria característica da transcendência, a existência de Deus pode não ser “provada” cientificamente na medida em que se pudesse ser provada plenamente, Deus não seria transcendente, mas, reduzido à esfera física, ou reduzido à explicação que se dá dEle. Porém, essa existência pode ser sugerida ou apreendida por evidências. As chamadas evidências do ALGO a que denominamos Deus podem perfeitamente ser encontradas nos indícios ou “pistas” deixados por Ele mesmo.
De fato, a verdadeira ciência (pois é possível falar de uma “ciência falsa” na medida em que ela não se atém à sua competência arvorando autoridade sobre o que foge à sua dimensão de estudo) não podendo opinar sobre aquilo que não é próprio da sua competência, como por exemplo o sobrenatural, está restrita a apresentar os dados indicativos para o que se coloca além dela. Vejamos o caso das asserções feitas pelos estudos acerca do Designer Inteligente, do criacionismo científico e outros dados científicos que indicam um projetista por trás do projeto. Os dados científicos apresentados nessas argumentações não podem afirmar ou "provar" a existência de Deus, dando, porém, indícios de algo que não pode ser alcançado pelo método científico, pois esse algo está além do natural, e é por isso chamado de sobrenatural.

CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCA

Parece também insensato, ou mesmo desleal para com o próprio meio científico, algum pesquisador ou cientista chamar de pseudociência as descobertas ou constatações científicas que não se alinham ao compromisso intelectual assumido, como fazem certos defensores do evolucionismo. Em casos como esse, é preciso considerar a definição correta de ciência, do que seria a verdadeira ciência e a falsa ciência. Uma verdadeira ciência é aquela que, atenta aquilo que estabelece como objeto de estudo, sistematiza seu conhecimento adquirido por intermédio de pesquisa restrita a um método de observação e que identifica, por esta via, categorias próprias do fenômeno, e com base em todo esse procedimento pode formular seu conhecimento racionalmente. Veja que, na definição que expus, expressões como “método de observação” e “categorias próprias do fenômeno” são extremamente relevantes pois sem a “observação do fenômeno” não se pode falar em “ciência”. Em tempo: fenômeno é algo que pode ser observado na natureza e descrito ou explicado cientificamente.
Quando um evolucionista critica o criacionista por este promover o criacionismo como um fato, o criacionista pode devolver a crítica na medida em que o evolucionismo promove a macroevolução como um fato, embora não haja observação desse pretenso fenômeno[1]. Mas o cientista evolucionista não gosta de ser taxado de crente, embora tenha fé nessa teoria e exponha suas crenças disfarçadas de ciência. Conforme vemos, há um certo proselitismo do naturalismo com um quê religioso por trás de suas ideias. A propósito, não é infame defender aquilo que se acredita se honestamente os dados para a possibilidade da crença forem apresentados.
Vejamos, por exemplo, o caso do Designer Inteligente: as constantes antrópicas, as leis precisas e os movimentos harmônicos do planeta e de seus objetos (como o nível de oxigênio, transparência atmosférica, interação gravitacional, nível de dióxido de carbono, gravidade, o tamanho da terra, inclinação do eixo, distância exata da lua, complexidade de uma folha, complexidade do olho humano, etc.) indicam um projetista inteligente por trás do projeto. Mas, o ateu sempre indicará uma outra via para tentar explicar esses fatos, admitindo inteligência por trás ou não (como Richard Dawkins e seu relojoeiro cego), ou sugerindo o acaso, mesmo com uma probabilidade praticamente zero de que todas as mais de cem constantes antrópicas pudessem ser como são na ausência de inteligência. As "evidências" que normalmente são apresentadas para a teoria da evolução dizem respeito a microevolução, que é observável mas não atesta mudança de uma espécie para outra, apenas variação dentro de uma mesma espécie. Já a macroevolução não tem evidência. Por este fato, os evolucionistas, na verdade, são crentes.

FENÔMENOS ESTRANHOS, CRUELDADE DA NATUREZA

Evolucionistas podem apresentar como argumento contrário ao Designer Inteligente os fenômenos da natureza como raios e tremores de terra, sugerindo certo desequilíbrio no sistema natural. Porém, ao contrário da indicação dum abandono do Designer Inteligente a essas causas, tais questões funcionam como forte apoio ao designer.
No caso dos raios, que muitas vezes destroem, conforme explica Geisler e Turek (2006) temos o seguinte dado: Se a taxa de descarga atmosférica (raios) fosse maior, haveria muita destruição pelo fogo, mas se fosse menor, haveria pouco nitrogênio se fixando no solo; referente aos tremores de terra, se houvesse mais atividade sísmica, muito mais vidas seriam perdidas, e se houvesse menos, os nutrientes do piso do oceano e dos leitos dos rios não seriam reciclados de volta. Nesses dois casos, temos um forte indício de Design (projeto) e Designer (projetista).
Amparados no questionamento de Darwin à “crueldade” da natureza (pois ao observar uma mosca injetar seus ovos numa lagarta viva para que elas se alimentassem das entranhas, Darwin se perguntou como um Deus bom poderia fazer uma criatura tão cruel), evolucionistas repetem o argumento da maldade no mundo como “prova” da inexistência de Deus. No entanto, o que os exemplos de natureza biológica fazem, na verdade, é confirmar as leis de equilíbrio do sistema, como a cadeia alimentar e seu nível trófico[2] (do grego trophe, alimento ou nutrição). Se Darwin questionou Deus por sua “crueldade” à uma lagarta, isso atesta a percepção reducionista que ele tinha de Deus. É simplista reduzir a explicação daquilo que não entendemos à inexistência de Deus. Há aqueles que ampliam essa ideia em casos como a perda de um ente querido. Mas, em vez de buscar compreender essas coisas a partir do transcendente, o naturalista será coerente com a visão de mundo materialista que acatou.
Vejamos que a ciência tenta entrar na seara alheia, naquilo que não é de sua competência, por querer entender o propósito de determinadas ações do Designer. Critica um Criador que pouco se importa com a média de pessoas que morrem vítimas dos fenômenos naturais criados por ele, e por não entender o propósito, joga tal Criador para o confortável conceito de inexistência. Há algo chamado propósito no pensamento teísta que a ciência não pode alcançar por ser metafísico e estar fora da alçada científica. As lacunas no entendimento de como o universo funciona tem inspirado cada vez mais os cientistas em busca de respostas, mas eles só podem responder COMO as coisas funcionam e não PORQUE. Um olhar natural tentando compreender o sobrenatural sempre será falho.

COMPLEXIDADE, ADAPTAÇÃO E ESPECIAÇÃO

            Dizem os evolucionistas que a complexidades da vida não seria indicação de uma mente inteligente, mas que as complexidades evoluíram por adaptações, clima, mutação, etc, e que nos estudos elementares de biologia isso já está posto como ciência. Na verdade, estudantes medianos de biologia não sabem que existe diferença entre micro e macroevolução. Então, não sabem que essa explicação da complexidade evoluída por adaptação não prova a macroevolução. Aliás, nada prova a macroevolução. A genética, especiação, adaptação, etc, indica a evolução dentro de uma mesma espécie, nunca fora. O mecanismo de especiação, que são múltiplas divisões consecutivas de uma espécie, mostra a capacidade de adaptação limitada, de empobrecimento genético, redução de variabilidade e, em consequência, um maior risco de extinção pois os ciclos reprodutivos não se ajustam e impedem o sucesso na reprodução (como exemplo, tem-se a mula, que é resultante do cruzamento entre o jumento e a égua, sendo estéril). Algo totalmente contrário à teoria da evolução, pois o que ocorre, na verdade, são involuções.

GENES E HOMOLOGIA

Os evolucionistas também utilizam a genética para “atestar” sua teoria. Costumam citar o fato da semelhança genética entre o homem e o chimpanzé de 99%, embora revistas científicas como a Science já tenham mostrado em artigos que tal dado está errado, além de outros estudos científicos revelarem conclusões diferentes. Porém, conforme a pesquisa que o Projeto Genoma divulgou, os homens e os ratos compartilham a imensa maioria de genes. Segundo a pesquisa, as duas espécies (homem e rato) possuem 30 mil genes, tendo apenas 300 que os diferenciam. Ou seja, considerando as grandes diferenças que observamos entre as espécies distintas, os genes não são os únicos fatores que se podem utilizar para determinar nossas semelhanças, e, consequentemente, sugerir uma dependência evolutiva dos símios.
Quanto à homologia, um estudo que também é retorcido pelos evolucionistas por indicar semelhanças entre as estruturas de diferentes organismos sugerindo ancestralidade comum entre organismos diferentes, sabemos que ela, na verdade, demonstra um plano comum ou uma estrutura básica que é estabelecida por um Criador, como o traço, o estilo de um mesmo artista, de um mesmo designer. Assim, a homologia também é mais um indício a favor do criacionismo, e não do evolucionismo.

FÓSSEIS, BILHÕES DE ANOS E ELO PERDIDO

            O que os evolucionistas costumam citar como provas são apenas teorias, não evidências. Na teoria é fácil especular. Especular, inclusive quanto aos fósseis. Historicamente, os fósseis apresentados como “provas”, cedo ou tarde são comprovados como fraudes, e aqui poderia ser citado uma lista, incluindo o “Australopithecus”, o “homo erectus”, o “homem de Piltdown”, o “homem de Nebrasca”, o “homem de Neandertal” e “Lucy”. Deixarei que o leitor faça sua própria pesquisa sobre essas fraudes. Faço referência apenas a “Lucy”, tendo em vista ser a “prova” mais famosa que os evolucionistas arvoram.  Em 2015, o site de pesquisa Google homenageou esse esqueleto que é colocado no rol dos fósseis “confiáveis”, sendo que ele é bem questionado pela própria comunidade científica, como provavelmente um macaco extinto com o parentesco de gorilas ou chimpanzés. Não se sabe, portanto, de algum fóssil que “prove” a evolução.
Como temos visto, os fósseis que poderiam sugerir a evolução das espécies, são pseudofósseis. Mas há também outros pseudofósseis. Lourenço (2007) explica que pseudofósseis são padrões visuais encontrados em rochas produzidos por processos geológicos e não biológicos (como a “Ágata de musgo”, parecido com as folhas das plantas). As evidências dos registros fósseis também passam por conceitos errôneos sobre a formação desses fósseis, como fatores que possibilitem a preservação do organismo contra fatores que podem inibir a sua preservação (ex. decomposição orgânica, ambiente com pouco oxigênio, etc.). E também, as informações contidas nos fósseis estão geralmente ligadas à história da morte do organismo e não necessariamente sobre como ele teria vivido. Um olhar atento sobre a paleontologia e a geologia deve considerar essas e outras questões, pois não há base científica, observada diretamente da geologia, para a evolução das espécies. Há base para dizer que houve variação, adaptação e extinção entre as espécies, mas uma evolução contínua não é observada.
O próprio Charles Darwin perguntou por que cada formação geológica e cada camada não estava repleta de elos intermediários. A geologia não revela tal cadeia orgânica finamente graduada, o que abre espaço para as objeções sérias levantadas contra a teoria da evolução. E, aí, o The Washington Post Weekly concluiu: “Se não é o registro fóssil que está incompleto, então deve ser a teoria [evolucionista]”.
Quanto a macroevolução, evolução de uma espécie para outra, como não há provas observáveis, sua prova costuma ser jogada para os bilhões de anos e as longas eras, isto é, o apoio está no mito dos bilhões de anos que não podem ser observados, apenas sugeridos. Nesse sentido, o cientista precisa ter fé, acreditar na sua teoria, e portanto, cair na mesma crítica que faz à religião. Afinal, onde está o “elo perdido”? Na macroevolução ocorrida nos bilhões de anos? O elo perdido já é uma expressão simbólica para “o calcanhar de Aquiles” da evolução, pois, qualquer tentativa de resposta para a macroevolução terá que recorrer ao fator “tempo não visto a olho nu”. É confortável colocar a “prova” da evolução para os bilhões de anos, para a teoria.

CONCLUSÃO

Entre evolucionistas e criacionistas há uma incessante discussão, e para cada argumento apresentado de uma vertente haverá uma contra argumentação da outra. As discussões não se esgotam e muitas vezes, de ambos os lados, saem de um apoio nas argumentações científicas para propostas teóricas especulativas. Essas discussões são motivadas pela vontade e pela crença. Como bem escreveu Philip E. Johnson, um dos pioneiros do movimento Designer Inteligente: “Aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto de crenças é, na verdade, um verdadeiro crente em outro conjunto de crenças”. Ao escrever com uma proposta parcial em favor da uma vertente de conhecimento aliada à uma crença, deve-se ter o cuidado de expor argumentos que podem ser verificados pela área de conhecimento específica, afim de não cair puramente na fé ou fideísmo.
O cientista cético sempre fica com uma “pulga atrás da orelha” diante do princípio antrópico. O cristão, diante do mesmo princípio, se vê diante de duas grandezas: a cosmológica e a metafísica. Na proposta de Pascal, o ser humano é um ser miserável, mas ele é capaz de SABER de sua condição. O ser humano é um simples galho, mas é um galho que PENSA. “Pelo espaço o universo me engloba e engole como um grão de pó; mas pelo pensamento eu abranjo o universo”.

REFERÊNCIAS

TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
LOURENÇO, Adauto. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2007.



[1] A macroevolução é a ideia de mudança de uma espécie para outra, algo não observado, nunca visto pela ciência. A microevolução, porém, como mudanças dentro de uma mesma espécie, é observada. Como exemplos de microevolução podemos indicar a cor da pele e dos olhos.
[2] Os animais e vegetais que possuem os mesmos hábitos alimentares integram o mesmo ecossistema. Existem três níveis tróficos: produtores – autótrofos (bactérias, algas e plantas), consumidores – heterótrofos (animais e fungos) e decompositores (bactérias, fungos e protozoários). Estes últimos decompõem a matéria orgânica em sais minerais, água e dióxido de carbono para serem reutilizados pelos produtores, ou seja, fazendo reciclagem e promovendo o equilíbrio do sistema. 

sábado, 28 de janeiro de 2017

CERTIFICADOS - SIMPÓSIO "A COSMOVISÃO CRISTÃ NA ATUALIDADE"

Em 2016, de 24 de abril à 01 de maio, realizou-se na Assembleia de Deus em Soledade 2, Setor 3 da IEADERN, o simpósio A COSMOVISÃO CRISTÃ NA ATUALIDADE. Segue link com os certificados de participação daqueles que solicitaram.

https://sites.google.com/site/certificadoscosmovisaocrista/certificados-participantes

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A Missão Integral e a Teologia da Missão Integral

Como Missão Integral da Igreja comumente se entende a ação social, ou atividade social como parte do dever cristão, o que não se configura o mesmo que evangelização, mais uma complementaridade dela. Assim está expresso no artigo 5 do Pacto de Lausanne (de 1974): Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Sim, parte do nosso dever cristão porque, sendo o amor a essência do cristianismo, ele será expresso em todos os seus termos na humanidade. Conforme está no Pacto, ... toda pessoa... possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Isso é a Missão Integral que foi defendida em Lausanne por Billy Graham, John Stott, Francis Schaeffer, Samuel Escobar e René Padilla, dentre outros líderes cristãos.
Mas essa Missão não se reduz ao termo “social” no que concerne às condições materiais das pessoas. Um ponto do Pacto não muito explorado quando se fala em “integralidade” é o 10. Ali se insere outro dado da Missão Integral que alcança a cultura: A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. Nesse ponto, Francis Schaeffer concentrou boa parte de seu esforço intelectual para alcançar as pessoas com a mensagem do evangelho. Em sua tese apresentada no Congresso, ele criticou posturas que iam desde ao equívoco da igreja confundir padrões da classe média com os absolutos da Palavra de Deus, passando pelo relativismo moral da sociedade presente à necessidade de haver beleza na maneira como os cristãos tratam uns aos outros. A síntese daquela tese era “Sendo o Cristianismo, como a Bíblia afirma, a verdade, ele tem de atingir cada aspecto da vida”. Isso é Missão Integral. Na assertiva repetida frequentemente: “o Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”.
Por outro lado, a Teologia da Missão Integral (TMI), talvez tomando por empréstimo expressões do artigo 5 do Pacto de Lausanne que diz A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam, se aproxima em seus discursos e práticas de uma vertente política marxista (é em Marx que encontramos a expressão “alienação política”) e, por tabela, da Teologia da Libertação (TL) do católico excomungado Leonardo Boff. Vejamos:
·         A Teologia da Libertação tem base no discurso marxista. Como exemplo, basta verificar os escritos de Boff, sua simpatia e militância com a política assistencialista do PT, e os apontamentos que Ratzinger fez dessa vertente teológica classificando-a como de influência marxista.
·         A Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) adotou oficialmente a Teologia da Libertação em seu discurso teológico e atividade pastoral, bem como o próprio ecumenismo.
·         O pastor luterano brasileiro Walter Altmann, moderador do Conselho Mundial de Igrejas, autor do livro Lutero e Libertação – uma releitura de Lutero em perspectiva latino-americana (1992), busca nessa obra um equilíbrio hermenêutico entre o “discurso confessional e a práxis libertadora” trabalhando conceitos da teologia tradicional com uma hermenêutica que se volta para a “teologia dos oprimidos”.
·         Tanto o bispo anglicano Robinson Cavalcanti como o pastor Ariovaldo Ramos declararam que a TMI é uma versão evangélica ou uma variante protestante da TL. A propósito, Ariovaldo saiu em defesa de Dilma, Lula e o PT por ocasião das investigações da Operação Lava Jato e é conhecido por uma postura progressista que se alinha ao pensamento de esquerda, tendo demonstrado simpatia também por Hugo Chávez, ditador venezuelano.

Enquanto a ênfase da Teologia da Libertação está numa igreja sem hierarquia (podendo recusar até a autoridade divina numa radicalização desse pressuposto), na missão de ir aos “excluídos”, no ensino de que comunhão é partilha (sem propriedade privada) e na busca por libertação das estruturas do pecado social (caricaturado no capitalismo), a contrapartida da mensagem completa (ou integral como queiram) do evangelho está na autoridade de Deus, na missão de ensinar todas as nações (Mt 28.19), no direito individual das pessoas (inclusive à propriedade) e na libertação de todo o pecado com vistas à salvação e vida eterna (Jo 5.24). Assim, parece não ser salutar a própria identificação de uma “missão integral” da igreja com essa “teologia da libertação”. Mas, se o fazem, é porque há certa semelhança.

A meu ver, o cuidado com os pobres e a atividade social da igreja não deve ser confundido com uma “Teologia” que supervaloriza os versículos bíblicos que conclamam um olhar para os pobres e se alinha à defesa de uma ideologia de esquerda. Não foi dessa forma seletiva que atuou William Wilberforce e Abraham Kuyper. Ao contrário, “o Evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens” indica todas as dimensões do ser, seja material, física, social, intelectual, cultural, política, artística, etc. Um Cristianismo Relevante é aquele que realça todas as necessidades do ser, pois Cristo exige a posse de todos os domínios da existência humana (como disse Kuyper), e o Cristianismo é a verdade sobre o todo da realidade, não somente sobre assuntos religiosos (como disse Schaeffer). Sou adepto da Missão Integral, mas não dessa “Teologia”. Afinal, no texto sagrado encontramos tanto “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26) como “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus” (Lc 4.4). É isso. 

sábado, 30 de abril de 2016

QUEM DISSE QUE “AMAR NÃO É PECADO”?


Nesta semana, por ocasião do Simpósio A Cosmovisão Cristã na Atualidade, realizado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, conjunto Soledade 2, Natal-RN, me chamou atenção a particularidade de um dos temas. Foi na exposição sobre a Ideologia de Gênero, ministrada pelo professor Danilo Medeiros (teólogo e pedagogo). Respondendo um dos questionamentos sobre a prática homossexual, em que a justificativa para tal prática estaria no “amor”, o palestrante foi bastante feliz ao indicar que muitas tentativas de abonar determinadas ações repousa no hedonismo. Ora, o hedonismo, com base também na proposta filosófica do Utilitarismo de John Stuart Mill, prega que o objetivo final de todas as ações deve ser o prazer supremo. Em outras palavras, para tal corrente pensante o prazer deve se constituir o próprio fundamento da atuação ética humana, não entrando no mérito os meios e os conteúdos da obtenção do mesmo.
Por ter essa justificativa hedonista, é comum darmos de cara com a defesa do homossexualismo nos seguintes termos: “Se as duas pessoas se amam, por que considerar errado tal prática?”. Nessa breve postagem vou expor alguns dados apresentados pelo palestrante para responder o questionamento, e incluir outros em seguida, a fim de demonstrar que a proposta hedonista de que “o amor justifica tudo porque amar não é pecado” é totalmente incompatível com a verdade e não pode ser régua para legitimar todas as ações.
Para um ouvinte desavisado, a música “Amar não é pecado” do cantor romântico/sertanejo Luan Santana, que diz em seu refrão: “Amar não é pecado/E se eu tiver errado/Que se dane o mundo/Eu só quero você”, pode parecer uma bela declaração de um coração apaixonado. Porém, há implicações bastante sérias numa postura que se vale de tal argumento. Veja o exemplo de uma jovem que foge de casa contrariando os pais bem como toda a família, para viver a aventura amorosa com um galã que a conquistou em nome do que chamou “amor”, e quando o despreparo psicológico, emocional, físico e econômico se evidencia ela se vê diante de situações desesperadoras que foram oriundas daquela justificativa de “amor”. Parece-me que as consequências das nossas ações também são bons indicativos para aquilo que definimos como pecado.
Como contestação à tese que o Luan Santana expõe em sua música, a Bíblia Sagrada apresenta atitudes que tiveram e tem por fundamento o amor, mas que nem por isso podem ser legitimadas como puras ou perfeitas. Vejamos:
  • Muitas tragédias ocorreram na família de Davi por causa de um sentimento apresentado como “amor”. Um de seus filhos, Amnom, desejou sua própria irmã Tamar e “amou-a”. Confidenciando o sentimento à um amigo, Amnom disse: “Amo a Tamar” (2 Sm 13.4). Como resultado, ele a violentou, a rejeitou e em seguida foi assassinado por seu próprio irmão Absalão (2 Sm 13);
  • O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras das quais Deus havia dito aos filhos de Israel que não se relacionassem com elas para que eles não seguissem os seus deuses. Mas, em oposição à ordem divina, “A estas se uniu Salomão com amor... E suas mulheres lhe perverteram o coração” (1 Rs 11. 1-4);
  • No Salmo 4.8 encontramos a pergunta: “Filhos dos homens... até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira?”. O fato da vaidade aqui ser o objeto do amor não a legitima como correta;
  • Da mesma forma, o salmista mostra que o ímpio “amou a maldição e não desejou a benção” (Sl 109.17). Neste caso, a inversão dos valores não torna a maldição algo agradável; 
  • Em provérbios, lemos: “O que ama a transgressão ama a contenda” (Pv 17.19). Como no caso anterior, a contenda não vira concórdia por ser objeto do amor;
  • Dialogando com Nicodemos, Jesus concluiu sua mensagem evangelística afirmando que “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).
  • Escrevendo à Timóteo, o apóstolo Paulo afirmou que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6.10). E em Eclesiastes lemos: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda” (Ec 5.10);
  • Paulo também pediu a Timóteo que viesse ficar com ele o mais depressa possível porque Demas o havia desamparado “amando o presente século” (2 Tm 4.10). O amor de Demas pelas coisas seculares o fez agir erradamente com prejuízo para seu companheiro Paulo;
  • João, em sua primeira epístola nos orienta: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15); 
  • Por fim, o texto de Apocalipse assevera que ficarão de fora da Cidade Santa “qualquer que ama e comete a mentira” (Ap 22.15).


Diante dos dados bíblicos acima expostos, fica claro que a doutrina hedonista (o prazer como objetivo final) não responde ou satisfaz as exigências de uma base legal e verdadeira que legitime as ações humanas como necessárias, éticas e morais. Se assim fosse, o certo e o errado seria definido como aquilo que dá prazer. E aí cairíamos num relativismo moral exacerbado, pois nas várias circunstâncias o prazer não é o mesmo para todos. Mas, sabiamente o autor de Provérbios escreveu: “O que ama os prazeres padecerá necessidade” (Pv 21.17). Sim, porque o sentido da vida não está numa resposta reducionista como esta: “tudo pelo prazer”.
Analisando os elementos expostos, torna-se perceptível que o cantor pop Lulu Santos equivocou-se ao compor uma canção que diz: “Consideramos justa toda forma de amor”.
Para sermos coerentes com a exigência que a realidade faz para a vida, deveríamos antes de apelar para o elemento “amor”, verificarmos os “níveis” ou “qualificações” do amor a que nos referimos. Conforme o grego, idioma original do Novo Testamento, a que tipo de amor estamos nos referindo? Seria este amor o Eros, amor sensual, erótico? Seria o Fileo, amor de amizade, fraternal? Seria o Storge, amor familiar, doméstico? Ou seria a maior expressão de amor que, no grego, se indica com a palavra Ágape? O que queremos dizer quando trazemos à discussão esse termo?  

João, o “apóstolo do amor”, falou nos termos de um PERFEITO AMOR (Αγαπη = Ágape) que por cumprir as exigências da vida pura e perfeita, lança fora o temor, o castigo, o tormento (1 Jo 4.18). Por isso mesmo, no diálogo que Jesus teve com Pedro na beira da praia, ao perguntar se Pedro o amava, Jesus usou o termo Ágape (amor perfeito, amor divino), e Pedro respondeu com Fileo, como que dizendo “Senhor, tu sabes que sou teu amigo” (Jo 21.15-17). Não é somente uma amizade que Deus quer de nós. Mas que tenhamos sua própria essência: ημεις αγαπωμεν αυτον, διοτι αυτος πρωτος ηγαπησεν ημας” – “Nós amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19).

segunda-feira, 25 de abril de 2016

SIMPÓSIO: A COSMOVISÃO CRISTÃ NA ATUALIDADE

Nesta semana de 24 de abril à 01 de maio de 2016, o Departamento de Ensino da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, congregação de Soledade 2, Natal-RN, juntamente com o Departamento de Jovens e Adolescentes, está promovendo um simpósio intitulado A COSMOVISÃO CRISTÃ NA ATUALIDADE, cujo propósito é despertar a igreja, bem como toda a comunidade, para buscar um olhar cristão diante das demandas que a sociedade atual impõe. Neste simpósio, dentre as várias questões, discutimos temas que envolvem à ciência, a filosofia, a teologia e a política.

Abaixo, segue o folder do evento. Sejam todos bem-vindos!