sábado, 30 de abril de 2016

QUEM DISSE QUE “AMAR NÃO É PECADO”?


Nesta semana, por ocasião do Simpósio A Cosmovisão Cristã na Atualidade, realizado na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, conjunto Soledade 2, Natal-RN, me chamou atenção a particularidade de um dos temas. Foi na exposição sobre a Ideologia de Gênero, ministrada pelo professor Danilo Medeiros (teólogo e pedagogo). Respondendo um dos questionamentos sobre a prática homossexual, em que a justificativa para tal prática estaria no “amor”, o palestrante foi bastante feliz ao indicar que muitas tentativas de abonar determinadas ações repousa no hedonismo. Ora, o hedonismo, com base também na proposta filosófica do Utilitarismo de John Stuart Mill, prega que o objetivo final de todas as ações deve ser o prazer supremo. Em outras palavras, para tal corrente pensante o prazer deve se constituir o próprio fundamento da atuação ética humana, não entrando no mérito os meios e os conteúdos da obtenção do mesmo.
Por ter essa justificativa hedonista, é comum darmos de cara com a defesa do homossexualismo nos seguintes termos: “Se as duas pessoas se amam, por que considerar errado tal prática?”. Nessa breve postagem vou expor alguns dados apresentados pelo palestrante para responder o questionamento, e incluir outros em seguida, a fim de demonstrar que a proposta hedonista de que “o amor justifica tudo porque amar não é pecado” é totalmente incompatível com a verdade e não pode ser régua para legitimar todas as ações.
Para um ouvinte desavisado, a música “Amar não é pecado” do cantor romântico/sertanejo Luan Santana, que diz em seu refrão: “Amar não é pecado/E se eu tiver errado/Que se dane o mundo/Eu só quero você”, pode parecer uma bela declaração de um coração apaixonado. Porém, há implicações bastante sérias numa postura que se vale de tal argumento. Veja o exemplo de uma jovem que foge de casa contrariando os pais bem como toda a família, para viver a aventura amorosa com um galã que a conquistou em nome do que chamou “amor”, e quando o despreparo psicológico, emocional, físico e econômico se evidencia ela se vê diante de situações desesperadoras que foram oriundas daquela justificativa de “amor”. Parece-me que as consequências das nossas ações também são bons indicativos para aquilo que definimos como pecado.
Como contestação à tese que o Luan Santana expõe em sua música, a Bíblia Sagrada apresenta atitudes que tiveram e tem por fundamento o amor, mas que nem por isso podem ser legitimadas como puras ou perfeitas. Vejamos:
  • Muitas tragédias ocorreram na família de Davi por causa de um sentimento apresentado como “amor”. Um de seus filhos, Amnom, desejou sua própria irmã Tamar e “amou-a”. Confidenciando o sentimento à um amigo, Amnom disse: “Amo a Tamar” (2 Sm 13.4). Como resultado, ele a violentou, a rejeitou e em seguida foi assassinado por seu próprio irmão Absalão (2 Sm 13);
  • O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras das quais Deus havia dito aos filhos de Israel que não se relacionassem com elas para que eles não seguissem os seus deuses. Mas, em oposição à ordem divina, “A estas se uniu Salomão com amor... E suas mulheres lhe perverteram o coração” (1 Rs 11. 1-4);
  • No Salmo 4.8 encontramos a pergunta: “Filhos dos homens... até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira?”. O fato da vaidade aqui ser o objeto do amor não a legitima como correta;
  • Da mesma forma, o salmista mostra que o ímpio “amou a maldição e não desejou a benção” (Sl 109.17). Neste caso, a inversão dos valores não torna a maldição algo agradável; 
  • Em provérbios, lemos: “O que ama a transgressão ama a contenda” (Pv 17.19). Como no caso anterior, a contenda não vira concórdia por ser objeto do amor;
  • Dialogando com Nicodemos, Jesus concluiu sua mensagem evangelística afirmando que “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).
  • Escrevendo à Timóteo, o apóstolo Paulo afirmou que “o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6.10). E em Eclesiastes lemos: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda” (Ec 5.10);
  • Paulo também pediu a Timóteo que viesse ficar com ele o mais depressa possível porque Demas o havia desamparado “amando o presente século” (2 Tm 4.10). O amor de Demas pelas coisas seculares o fez agir erradamente com prejuízo para seu companheiro Paulo;
  • João, em sua primeira epístola nos orienta: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15); 
  • Por fim, o texto de Apocalipse assevera que ficarão de fora da Cidade Santa “qualquer que ama e comete a mentira” (Ap 22.15).


Diante dos dados bíblicos acima expostos, fica claro que a doutrina hedonista (o prazer como objetivo final) não responde ou satisfaz as exigências de uma base legal e verdadeira que legitime as ações humanas como necessárias, éticas e morais. Se assim fosse, o certo e o errado seria definido como aquilo que dá prazer. E aí cairíamos num relativismo moral exacerbado, pois nas várias circunstâncias o prazer não é o mesmo para todos. Mas, sabiamente o autor de Provérbios escreveu: “O que ama os prazeres padecerá necessidade” (Pv 21.17). Sim, porque o sentido da vida não está numa resposta reducionista como esta: “tudo pelo prazer”.
Analisando os elementos expostos, torna-se perceptível que o cantor pop Lulu Santos equivocou-se ao compor uma canção que diz: “Consideramos justa toda forma de amor”.
Para sermos coerentes com a exigência que a realidade faz para a vida, deveríamos antes de apelar para o elemento “amor”, verificarmos os “níveis” ou “qualificações” do amor a que nos referimos. Conforme o grego, idioma original do Novo Testamento, a que tipo de amor estamos nos referindo? Seria este amor o Eros, amor sensual, erótico? Seria o Fileo, amor de amizade, fraternal? Seria o Storge, amor familiar, doméstico? Ou seria a maior expressão de amor que, no grego, se indica com a palavra Ágape? O que queremos dizer quando trazemos à discussão esse termo?  

João, o “apóstolo do amor”, falou nos termos de um PERFEITO AMOR (Αγαπη = Ágape) que por cumprir as exigências da vida pura e perfeita, lança fora o temor, o castigo, o tormento (1 Jo 4.18). Por isso mesmo, no diálogo que Jesus teve com Pedro na beira da praia, ao perguntar se Pedro o amava, Jesus usou o termo Ágape (amor perfeito, amor divino), e Pedro respondeu com Fileo, como que dizendo “Senhor, tu sabes que sou teu amigo” (Jo 21.15-17). Não é somente uma amizade que Deus quer de nós. Mas que tenhamos sua própria essência: ημεις αγαπωμεν αυτον, διοτι αυτος πρωτος ηγαπησεν ημας” – “Nós amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19).

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