quarta-feira, 1 de março de 2017

Criacionismo x Evolucionismo: o lugar da fé e da razão

Quando se utiliza o termo “fé” ou “crença” para algum posicionamento cristão em ambientes acadêmicos ou mesmo em discussões corriqueiras sobre temas que envolvem dados históricos, científicos e filosóficos, ainda é comum a noção equivocada de que a fé dispensa qualquer explicação racional para sua apresentação, tendo em vista a não percepção de que existe distinção entre fé e fideísmo. Como posição teológica que despreza a razão e recomenda a estrita fundamentação da verdade na fé, o fideísmo se esquiva de argumentações que apoiem a crença e despreza os exercícios racionais para a fé cristã. Aqui se estabelece um problema que contradiz o próprio fideísmo: ele é apresentado a partir do uso da razão para dizer que a razão não alcança as questões de fé elaboradas racionalmente porque foram pensadas. E um outro erro comum está no exagero de colocar todas as afirmações da metafísica cristã no fideísmo, que em suma seria “a fé na fé”. Há muitos cristãos que não se conformam com a frase “creio porque creio” e buscam os dados relevantes nas áreas do saber que apoiam com evidências suas crenças. Como exemplo, temos o estudo da origem do universo e do homem, notadamente exposto nas vertentes criacionista e evolucionista.
As características que são encontradas em Deus, por exemplo, são percebidas por aqueles que se dispõem a isso, tanto por Sua revelação na criação, na consciência humana, na Bíblia Sagrada e em Jesus Cristo. Quando o argumento cosmológico para a existência de Deus apresenta uma causa para a origem do universo – as premissas (1) tudo que começa a existir tem uma causa; (2) o universo começou a existir, e (3) o universo tem uma causa – o cientista se arvora em dizer que essa causa é simplesmente algo, e não Deus. Mas, assim como é confortável para o cristão colocar Deus no lugar de ALGO, é confortável para o cientista colocar o ALGO no lugar de Deus. Porém, quando desconhecemos qualquer argumento a favor de qualquer coisa, é coerente buscarmos conhecer. Pela própria característica da transcendência, a existência de Deus pode não ser “provada” cientificamente na medida em que se pudesse ser provada plenamente, Deus não seria transcendente, mas, reduzido à esfera física, ou reduzido à explicação que se dá dEle. Porém, essa existência pode ser sugerida ou apreendida por evidências. As chamadas evidências do ALGO a que denominamos Deus podem perfeitamente ser encontradas nos indícios ou “pistas” deixados por Ele mesmo.
De fato, a verdadeira ciência (pois é possível falar de uma “ciência falsa” na medida em que ela não se atém à sua competência arvorando autoridade sobre o que foge à sua dimensão de estudo) não podendo opinar sobre aquilo que não é próprio da sua competência, como por exemplo o sobrenatural, está restrita a apresentar os dados indicativos para o que se coloca além dela. Vejamos o caso das asserções feitas pelos estudos acerca do Designer Inteligente, do criacionismo científico e outros dados científicos que indicam um projetista por trás do projeto. Os dados científicos apresentados nessas argumentações não podem afirmar ou "provar" a existência de Deus, dando, porém, indícios de algo que não pode ser alcançado pelo método científico, pois esse algo está além do natural, e é por isso chamado de sobrenatural.

CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCA

Parece também insensato, ou mesmo desleal para com o próprio meio científico, algum pesquisador ou cientista chamar de pseudociência as descobertas ou constatações científicas que não se alinham ao compromisso intelectual assumido, como fazem certos defensores do evolucionismo. Em casos como esse, é preciso considerar a definição correta de ciência, do que seria a verdadeira ciência e a falsa ciência. Uma verdadeira ciência é aquela que, atenta aquilo que estabelece como objeto de estudo, sistematiza seu conhecimento adquirido por intermédio de pesquisa restrita a um método de observação e que identifica, por esta via, categorias próprias do fenômeno, e com base em todo esse procedimento pode formular seu conhecimento racionalmente. Veja que, na definição que expus, expressões como “método de observação” e “categorias próprias do fenômeno” são extremamente relevantes pois sem a “observação do fenômeno” não se pode falar em “ciência”. Em tempo: fenômeno é algo que pode ser observado na natureza e descrito ou explicado cientificamente.
Quando um evolucionista critica o criacionista por este promover o criacionismo como um fato, o criacionista pode devolver a crítica na medida em que o evolucionismo promove a macroevolução como um fato, embora não haja observação desse pretenso fenômeno[1]. Mas o cientista evolucionista não gosta de ser taxado de crente, embora tenha fé nessa teoria e exponha suas crenças disfarçadas de ciência. Conforme vemos, há um certo proselitismo do naturalismo com um quê religioso por trás de suas ideias. A propósito, não é infame defender aquilo que se acredita se honestamente os dados para a possibilidade da crença forem apresentados.
Vejamos, por exemplo, o caso do Designer Inteligente: as constantes antrópicas, as leis precisas e os movimentos harmônicos do planeta e de seus objetos (como o nível de oxigênio, transparência atmosférica, interação gravitacional, nível de dióxido de carbono, gravidade, o tamanho da terra, inclinação do eixo, distância exata da lua, complexidade de uma folha, complexidade do olho humano, etc.) indicam um projetista inteligente por trás do projeto. Mas, o ateu sempre indicará uma outra via para tentar explicar esses fatos, admitindo inteligência por trás ou não (como Richard Dawkins e seu relojoeiro cego), ou sugerindo o acaso, mesmo com uma probabilidade praticamente zero de que todas as mais de cem constantes antrópicas pudessem ser como são na ausência de inteligência. As "evidências" que normalmente são apresentadas para a teoria da evolução dizem respeito a microevolução, que é observável mas não atesta mudança de uma espécie para outra, apenas variação dentro de uma mesma espécie. Já a macroevolução não tem evidência. Por este fato, os evolucionistas, na verdade, são crentes.

FENÔMENOS ESTRANHOS, CRUELDADE DA NATUREZA

Evolucionistas podem apresentar como argumento contrário ao Designer Inteligente os fenômenos da natureza como raios e tremores de terra, sugerindo certo desequilíbrio no sistema natural. Porém, ao contrário da indicação dum abandono do Designer Inteligente a essas causas, tais questões funcionam como forte apoio ao designer.
No caso dos raios, que muitas vezes destroem, conforme explica Geisler e Turek (2006) temos o seguinte dado: Se a taxa de descarga atmosférica (raios) fosse maior, haveria muita destruição pelo fogo, mas se fosse menor, haveria pouco nitrogênio se fixando no solo; referente aos tremores de terra, se houvesse mais atividade sísmica, muito mais vidas seriam perdidas, e se houvesse menos, os nutrientes do piso do oceano e dos leitos dos rios não seriam reciclados de volta. Nesses dois casos, temos um forte indício de Design (projeto) e Designer (projetista).
Amparados no questionamento de Darwin à “crueldade” da natureza (pois ao observar uma mosca injetar seus ovos numa lagarta viva para que elas se alimentassem das entranhas, Darwin se perguntou como um Deus bom poderia fazer uma criatura tão cruel), evolucionistas repetem o argumento da maldade no mundo como “prova” da inexistência de Deus. No entanto, o que os exemplos de natureza biológica fazem, na verdade, é confirmar as leis de equilíbrio do sistema, como a cadeia alimentar e seu nível trófico[2] (do grego trophe, alimento ou nutrição). Se Darwin questionou Deus por sua “crueldade” à uma lagarta, isso atesta a percepção reducionista que ele tinha de Deus. É simplista reduzir a explicação daquilo que não entendemos à inexistência de Deus. Há aqueles que ampliam essa ideia em casos como a perda de um ente querido. Mas, em vez de buscar compreender essas coisas a partir do transcendente, o naturalista será coerente com a visão de mundo materialista que acatou.
Vejamos que a ciência tenta entrar na seara alheia, naquilo que não é de sua competência, por querer entender o propósito de determinadas ações do Designer. Critica um Criador que pouco se importa com a média de pessoas que morrem vítimas dos fenômenos naturais criados por ele, e por não entender o propósito, joga tal Criador para o confortável conceito de inexistência. Há algo chamado propósito no pensamento teísta que a ciência não pode alcançar por ser metafísico e estar fora da alçada científica. As lacunas no entendimento de como o universo funciona tem inspirado cada vez mais os cientistas em busca de respostas, mas eles só podem responder COMO as coisas funcionam e não PORQUE. Um olhar natural tentando compreender o sobrenatural sempre será falho.

COMPLEXIDADE, ADAPTAÇÃO E ESPECIAÇÃO

            Dizem os evolucionistas que a complexidades da vida não seria indicação de uma mente inteligente, mas que as complexidades evoluíram por adaptações, clima, mutação, etc, e que nos estudos elementares de biologia isso já está posto como ciência. Na verdade, estudantes medianos de biologia não sabem que existe diferença entre micro e macroevolução. Então, não sabem que essa explicação da complexidade evoluída por adaptação não prova a macroevolução. Aliás, nada prova a macroevolução. A genética, especiação, adaptação, etc, indica a evolução dentro de uma mesma espécie, nunca fora. O mecanismo de especiação, que são múltiplas divisões consecutivas de uma espécie, mostra a capacidade de adaptação limitada, de empobrecimento genético, redução de variabilidade e, em consequência, um maior risco de extinção pois os ciclos reprodutivos não se ajustam e impedem o sucesso na reprodução (como exemplo, tem-se a mula, que é resultante do cruzamento entre o jumento e a égua, sendo estéril). Algo totalmente contrário à teoria da evolução, pois o que ocorre, na verdade, são involuções.

GENES E HOMOLOGIA

Os evolucionistas também utilizam a genética para “atestar” sua teoria. Costumam citar o fato da semelhança genética entre o homem e o chimpanzé de 99%, embora revistas científicas como a Science já tenham mostrado em artigos que tal dado está errado, além de outros estudos científicos revelarem conclusões diferentes. Porém, conforme a pesquisa que o Projeto Genoma divulgou, os homens e os ratos compartilham a imensa maioria de genes. Segundo a pesquisa, as duas espécies (homem e rato) possuem 30 mil genes, tendo apenas 300 que os diferenciam. Ou seja, considerando as grandes diferenças que observamos entre as espécies distintas, os genes não são os únicos fatores que se podem utilizar para determinar nossas semelhanças, e, consequentemente, sugerir uma dependência evolutiva dos símios.
Quanto à homologia, um estudo que também é retorcido pelos evolucionistas por indicar semelhanças entre as estruturas de diferentes organismos sugerindo ancestralidade comum entre organismos diferentes, sabemos que ela, na verdade, demonstra um plano comum ou uma estrutura básica que é estabelecida por um Criador, como o traço, o estilo de um mesmo artista, de um mesmo designer. Assim, a homologia também é mais um indício a favor do criacionismo, e não do evolucionismo.

FÓSSEIS, BILHÕES DE ANOS E ELO PERDIDO

            O que os evolucionistas costumam citar como provas são apenas teorias, não evidências. Na teoria é fácil especular. Especular, inclusive quanto aos fósseis. Historicamente, os fósseis apresentados como “provas”, cedo ou tarde são comprovados como fraudes, e aqui poderia ser citado uma lista, incluindo o “Australopithecus”, o “homo erectus”, o “homem de Piltdown”, o “homem de Nebrasca”, o “homem de Neandertal” e “Lucy”. Deixarei que o leitor faça sua própria pesquisa sobre essas fraudes. Faço referência apenas a “Lucy”, tendo em vista ser a “prova” mais famosa que os evolucionistas arvoram.  Em 2015, o site de pesquisa Google homenageou esse esqueleto que é colocado no rol dos fósseis “confiáveis”, sendo que ele é bem questionado pela própria comunidade científica, como provavelmente um macaco extinto com o parentesco de gorilas ou chimpanzés. Não se sabe, portanto, de algum fóssil que “prove” a evolução.
Como temos visto, os fósseis que poderiam sugerir a evolução das espécies, são pseudofósseis. Mas há também outros pseudofósseis. Lourenço (2007) explica que pseudofósseis são padrões visuais encontrados em rochas produzidos por processos geológicos e não biológicos (como a “Ágata de musgo”, parecido com as folhas das plantas). As evidências dos registros fósseis também passam por conceitos errôneos sobre a formação desses fósseis, como fatores que possibilitem a preservação do organismo contra fatores que podem inibir a sua preservação (ex. decomposição orgânica, ambiente com pouco oxigênio, etc.). E também, as informações contidas nos fósseis estão geralmente ligadas à história da morte do organismo e não necessariamente sobre como ele teria vivido. Um olhar atento sobre a paleontologia e a geologia deve considerar essas e outras questões, pois não há base científica, observada diretamente da geologia, para a evolução das espécies. Há base para dizer que houve variação, adaptação e extinção entre as espécies, mas uma evolução contínua não é observada.
O próprio Charles Darwin perguntou por que cada formação geológica e cada camada não estava repleta de elos intermediários. A geologia não revela tal cadeia orgânica finamente graduada, o que abre espaço para as objeções sérias levantadas contra a teoria da evolução. E, aí, o The Washington Post Weekly concluiu: “Se não é o registro fóssil que está incompleto, então deve ser a teoria [evolucionista]”.
Quanto a macroevolução, evolução de uma espécie para outra, como não há provas observáveis, sua prova costuma ser jogada para os bilhões de anos e as longas eras, isto é, o apoio está no mito dos bilhões de anos que não podem ser observados, apenas sugeridos. Nesse sentido, o cientista precisa ter fé, acreditar na sua teoria, e portanto, cair na mesma crítica que faz à religião. Afinal, onde está o “elo perdido”? Na macroevolução ocorrida nos bilhões de anos? O elo perdido já é uma expressão simbólica para “o calcanhar de Aquiles” da evolução, pois, qualquer tentativa de resposta para a macroevolução terá que recorrer ao fator “tempo não visto a olho nu”. É confortável colocar a “prova” da evolução para os bilhões de anos, para a teoria.

CONCLUSÃO

Entre evolucionistas e criacionistas há uma incessante discussão, e para cada argumento apresentado de uma vertente haverá uma contra argumentação da outra. As discussões não se esgotam e muitas vezes, de ambos os lados, saem de um apoio nas argumentações científicas para propostas teóricas especulativas. Essas discussões são motivadas pela vontade e pela crença. Como bem escreveu Philip E. Johnson, um dos pioneiros do movimento Designer Inteligente: “Aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto de crenças é, na verdade, um verdadeiro crente em outro conjunto de crenças”. Ao escrever com uma proposta parcial em favor da uma vertente de conhecimento aliada à uma crença, deve-se ter o cuidado de expor argumentos que podem ser verificados pela área de conhecimento específica, afim de não cair puramente na fé ou fideísmo.
O cientista cético sempre fica com uma “pulga atrás da orelha” diante do princípio antrópico. O cristão, diante do mesmo princípio, se vê diante de duas grandezas: a cosmológica e a metafísica. Na proposta de Pascal, o ser humano é um ser miserável, mas ele é capaz de SABER de sua condição. O ser humano é um simples galho, mas é um galho que PENSA. “Pelo espaço o universo me engloba e engole como um grão de pó; mas pelo pensamento eu abranjo o universo”.

REFERÊNCIAS

TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
LOURENÇO, Adauto. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2007.



[1] A macroevolução é a ideia de mudança de uma espécie para outra, algo não observado, nunca visto pela ciência. A microevolução, porém, como mudanças dentro de uma mesma espécie, é observada. Como exemplos de microevolução podemos indicar a cor da pele e dos olhos.
[2] Os animais e vegetais que possuem os mesmos hábitos alimentares integram o mesmo ecossistema. Existem três níveis tróficos: produtores – autótrofos (bactérias, algas e plantas), consumidores – heterótrofos (animais e fungos) e decompositores (bactérias, fungos e protozoários). Estes últimos decompõem a matéria orgânica em sais minerais, água e dióxido de carbono para serem reutilizados pelos produtores, ou seja, fazendo reciclagem e promovendo o equilíbrio do sistema.