Todos nós ouvimos, vez por outra, que o mal do século é a depressão. Este ano, ao observar um outro mal, inclusive muito comum nas redes sociais, comecei a fazer o seguinte trocadilho: o mal do século não é a depressão, mas a ostentação. Não quero, entretanto, substituir um mal pelo outro. O trocadilho que fiz é apenas uma forma de indicar o quanto essa “coisa” chamada ostentação tem se evidenciado nos últimos anos, e principalmente naqueles que exercem alguma liderança.
Quero, ao abordar essa questão, chamar a atenção das pessoas para a ostentação bastante visível em apenas um tipo de liderança: a eclesiástica evangélica. Porém, não pretendo ser repetitivo fazendo referência a nomes conhecidos na mídia como Edir Macêdo, R. R. Soares, Valdemiro Santiago, Silas Malafaia e outros. Estes, quando propõem sua mensagem de confissão positiva e prosperidade, para serem coerentes com o que pregam, devem mesmo ostentar.
Há outros líderes, desconhecidos da mídia, mas muito conhecidos de seus liderados. São pastores de congregações pequenas, com membresia aproximada a quinhentas ou seiscentas pessoas e que, por estarem numa posição hierárquica superior (apesar de, no momento de suas consagrações, serem alertados de que estão descendo um degrau e não subindo, pois serão servos e não servidos), acham que devem ser mais respeitados do que os outros. Eles confundem honra com respeito. Honrar é reconhecer a posição ou função que alguém se encontra; respeitar é saber que, independente das posições ou funções, todos devem receber tratamento digno (respeitoso). Afinal de contas, diante de Deus somos todos seres humanos iguais, pois somente ele é Deus, não havendo espaço para semideuses.
Ostentar é se mostrar, se exibir motivado pelo orgulho, pela presunção e pela vaidade. O que presenciamos em várias situações, são lideres eclesiásticos, muitas vezes nem carismáticos, que agem ostentando sua posição e as benesses oriundas dela.
Como exemplo, vou listar algumas narrativas de fatos que ouvi, e situações que também pude presenciar recentemente. A liderança eclesiástica evangélica que sofre do mal ostentação normalmente age assim:
• Se não há vagas de estacionamento de acordo com as exigências do setor público de meio ambiente e urbanismo, e os carros presisam ficar um atrás do outro, eles exigem: “nenhum carro pode estacionar aqui, sem que o meu entre primeiro”.
• Ameaçam por em “disciplina” aqueles que, desavisados, usam sua vaga especial de estacionamento.
• Compram carros novos (ou pelo menos de marca comum a outros pastores) para causar a impressão de poder aquisitivo alto e, assim, não ficar “por baixo”.
• Exigem o serem servidos primeiro em festas, jantares, almoços e outros eventos.
• Os que tem habilidade na pregação gravam suas mensagens em cd ou dvd e vendem a fim de lucrar e ser reconhecido. (veja que o objetivo não é propagar a mensagem, mas ele mesmo).
• Escrevem livros (alguns já com teor biográfico), onde, na capa colocam suas fotografias com a igreja lotada (em algum evento incomum) para parecer que ele chama a atenção de muita gente.
• Em seus livros impressos e editados independentes, colocam seus curriculos na contra-capa onde até a profissão (ou emprego) de seus filhos aparecem.
• Postam fotos nas redes sociais do trabalho material (não espiritual) que estão realizando em suas congregações, como reforma de fachada, do púlpito, etc.
Bom, seriam muitos os exemplos, e não estou incluindo aqui os exemplos de pastores presidentes de denominações que, em seus discursos falam sobre humildade e simplicidade, mas agem como ostentadores de posições e bens móveis e imóveis. Mas como os médicos fazem, é preferível indicar o remédio para o mal detectado. Aí vai, então, uma nova lista:
• “… precedendo a honra vai a humildade. (Pv 15.33)
• “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; (Pv 25.6)
• Os fariseus: “não procedais em conformidade com as suas obras… fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens… E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi”. (Mt 23.3-7)
• “Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu… qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.” (Lc 14.8,11)
Que sejamos como o Mestre Jesus. Depois de lavar os pés dos seus discípulos, para ensinar-lhes a humildade, o serviço e a simplicidade, disse-lhes: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. (Jo 13.15).
Cláudio Ananias