quinta-feira, 19 de março de 2015

A soberania de Deus e o livre-arbítrio - Discussões sobre calvinismo e arminianismo

O título e o subtítulo desse texto considera a ênfase que o calvinismo dá para a soberania de Deus e a ênfase que o arminianismo dá ao livre-arbítrio. Porém, antes que noções equivocadas do conteúdo aqui exposto possam aparecer, a proposta desse texto não é defender um ou outro ponto de vista, mas estimular a busca por um equilíbrio, ou mesmo um afastamento do tema (quando se vir que ele não mais contribui positivamente).

Nestes tempos recentes de internet, com o uso maciço das redes sociais, o debate entre as duas correntes teológicas tem se acirrado fazendo com que defensores de ambos os lados se agridam e destoem tanto os textos originais dos primeiros autores quanto dos seus oponentes diretos no calor do debate. Talvez, estimulados por eventos afins, ou mesmo pelo estudo nas faculdades de teologia, esse assunto vem ganhando bastante espaço nas igrejas e nas diversas mídias. Alguns exemplos de como essa temática tem se tornado cada vez mais frequente, podem ser listados a seguir:

* O pastor Éber Cocareli, apresentador do programa televisivo Vejam Só, frequentemente (toda semana) aborda nesse programa temas que envolvem a defesa de um ou outro ponto importante no arcabouço da teologia arminiana e calvinista, trazendo sempre para o embate dois pastores (e/ou teólogos) adeptos de cada posição. Ao final do programa, como é de se esperar, ninguém chega a um acordo concernente à discussão.

* Em fevereiro de 2014 o Instituto Teológico Jacob Armínio promoveu a 1ª Conferência Cristã Arminiana, com o tema “Deus amou o mundo” na cidade de Caruaru-PE. Reunindo teólogos e pastores para discutir a teologia de Armínio, esse evento teve a participação, como palestrantes, dos teólogos e escritores Pr. Zwinglio Rodrigues e Pr. Carlos Kleber Maia, dentre outros.

* Em novembro de 2014, a VINACC – Visão Nacional para a Consciência Cristã – realizou um Hangout com o tema “Quem disse que Calvinistas e Arminianos não se entendem?”. Mediado pelo pastor Euder Faber, presidente da VINACC, esse evento contou com a participação dos arminianos Ciro Sanches Zibordi e Joaquim de Andrade; e dos calvinistas Renato Vargens e Franklin Ferreira. Além da exposição dos cinco pontos básicos de cada corrente teológica, os participantes fizeram comentários sobre os embates atuais entre Cavinistas e Arminianos analisando até que ponto isso é benéfico ou maléfico (quando se vai para os extremos e para as ofensas).

* No evento Consciência Cristã de 2015, realizado na cidade de Campina Grande, e no período do carnaval, o pastor Aurivan Marinho fez referência às discussões entre calvinistas e arminianos e usou uma frase que incomodou vários defensores das duas correntes. Ele disse: “calvinistas e arminianos, as suas discussões na internet são tão inúteis como as dos saduceus e fariseus”. Após sua pregação, ele se expressou da seguinte forma em uma entrevista: “Eu acho que este tipo de conflito não produz missões, não produz unidade, não produz comunhão, não produz testemunho de amor e misericórdia, não promove o bem e nem a edificação da igreja, portanto isso é inútil”.

O escritor Dave Hunt, após resolver falar sobre esse tema e escrever What love is this? (fazendo sérias críticas ao calvinismo), disse que recebeu uma tempestade de cartas enfurecidas dizendo coisas do tipo: “Nós apreciamos seu ministério pelos últimos 10 anos, em favor da verdade e contra a heresia, mas agora você atacou o calvinismo. Remova-me da sua lista de contatos, eu estou instruindo todo o meu povo a sair também, não queremos mais coisa alguma com você”. Antes de expor suas razões para escrever e dar palestra sobre essa temática, Hunt disse: “acredito que eu tenho o direito de dar a minha opinião sobre o que eu penso que a Bíblia diz”. (Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ZtDWAkmIQMs. Acesso em 13/03/2015).

Qualquer cristão, verdadeiramente nascido de novo, sabe que a busca pelo conhecimento de Deus e Sua Palavra só é válida quando isenta de atitudes agressivas, pois tais procedimentos não se coadunam com a mensagem de amor e respeito referendadas no Evangelho de Cristo.

A busca do saber cristão passa tanto pelo reconhecimento da soberania de Deus quanto do livre-arbítrio do homem, ambos referendados pelos textos bíblicos. Enquanto o calvinismo enfatiza a soberania de Deus, para sustentar sua posição, o arminianismo dá a ênfase na liberdade de escolha inerente a cada ser. Armínio (1560-1609), discordando de vários pontos da doutrina calvinista, escreveu um documento intitulado Remonstrance (o protesto), e depois de sua morte os seguidores de suas proposições solidificaram o documento em um panfleto com 5 pontos. Daí, temos os cinco pontos do arminianismo:

* Livre-arbítrio – os homens são livres para recusar ou aceitar a salvação; graça preveniente.
* Eleição condicional – Deus previu os homens que teriam fé nele, e, assim, os elegeu.
* Expiação ilimitada – Cristo morreu por todos os homens, não só pelos eleitos.
* Graça resistível – É possível resistir à Graça de Deus para não ser salvo.
* Decair da graça – Os salvos podem perder a salvação se não perseverarem até o fim.

Esses cinco pontos foram rejeitados em uma reunião convocada pela Igreja Reformada Holandesa, em 1618, na cidade de Dordrecht (daí o nome Sínodo de Dort), e, para contrapô-los, o Sínodo aprovou outros cinco pontos que definiram a posição calvinista. Indicado pela sigla TULIP (das iniciais em inglês), os cinco pontos do calvinismo são:

* Total Depravity (Depravação total) – não há como escolher o bem, já que todos são totalmente depravados.
* Unconditional Election (Eleição incondicional) – Deus escolhe os pecadores que serão salvos sem considerar qualquer mérito, obra ou fé previstos neles.
* Limited Atonement (Expiação limitada) – O sacrifício de Cristo foi somente para os eleitos.
* Irresistible Grace (Graça irresistível) – os eleitos não podem resistir à graça de Deus. Eles sempre serão convencidos e salvos.
* Perseverance of Saints (Perseverança dos santos) – os eleitos não perdem a salvação, pois perseveram até o fim.

O escritor e teólogo Norman Geisler escreveu o livro Eleitos, mas livres (2001) em que faz uma abordagem bastante equilibrada sobre as duas correntes teológicas. Nessa obra, Geisler reforça que os textos bíblicos expõem tanto a soberania de Deus quanto o livre-arbítrio do homem. Para a soberania de Deus, sabemos que Deus governa sobre todas as coisas (1Cr 29.11,12; Sl 48.2; 29.10; 10.16; 24.8), e que Ele está no controle de todas as coisas (Jó 42.2; Sl 115.3;135.6; Dn 4.35), seja de reis, dos acontecimentos e decisões humanos, dos anjos (bons e maus) e do próprio Satanás. Diante disso, vem a pergunta: “Como, então, somos livres?”. Uma outra pergunta curiosa: “Se Deus está no controle de tudo, então por que deveríamos ser culpados por qualquer coisa?”. A culpa, então, seria do Diabo? E quem fez o diabo pecar? E quem fez o Diabo? Norman Geisler coloca um subtítulo afirmando: A livre-escolha é a origem do mal.

“Soberania e livre-arbítrio. É um ou o outro, ou ambos, um e outro? A Bíblia diz ambos” (Geisler, 2001, p. 41). Na verdade, a Bíblia diz: “Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto” (Sl 100.3); “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15.16). Mas também diz: “… te tenho proposto a vida e a morte, a benção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt 30.19) e “… escolhei hoje a quem sirvais…” (Js 24.15).

Conclusão:

O teólogo Augustus Nicodemus, respondendo a uma pergunta concernente a essa temática, disse, de forma bastante equilibrada: “… duas verdades que parecem se contradizer - Deus é absolutamente soberano e só vai pro céu quem ele escolheu e chamou, por outro lado, você é responsável por sua decisão. Se você vai pro inferno é porque você disse não, é porque você não quis; e se você vai pro céu é porque Deus chamou você”. Em seguida, ele conclui: “Todo crente de joelho é calvinista (ele ora “Oh Deus, eu te agradeço porque tu…”), e todo calvinista de pé é um arminiano (ele diz pro vizinho “se converta, se arrependa”)”. “Se você ficar em cima de um trilho de trem, em linha reta, as duas linhas vão correndo paralelas mas nunca se encontram, elas só se encontram lá no horizonte. A soberania de Deus e a responsabilidade humana são as duas linhas desse trem. Elas correm paralelas na Bíblia, e vão se encontrar lá na eternidade”. (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=iDYscwBqQGY. Acesso em 14/03/2015).

Portanto, considere duas opções: (1) aceite uma das propostas e respeite aquela admitida em sua denominação; ou (2) aceite uma das propostas e busque uma denominação que partilhe daquela escolhida.

Pra refletir e sorrir: “Todo calvinista deveria respeitar aqueles que foram predestinados a serem arminianos, e todo arminiano deveria respeitar aqueles que escolheram ser calvinista” (Frase de Hermes C. Fernandes).

Por Cláudio Ananias

segunda-feira, 2 de março de 2015

O sol parou mesmo, como diz a Bíblia? A Bíblia se contradiz?

Sustentar com razões (argumentos) as proposições da doutrina ortodoxa eclesiástica exige o conhecimento científico em algumas áreas. São áreas de apoio à Teologia que amparam com linguagem própria muito daquilo que a Bíblia diz com linguagem comum. Veja bem, quando falamos do poder sobrenatural de Deus, em sua interferência no curso natural para conceder livramento ou vitória sobre os inimigos do seu povo, usamos termos coloquiais, a linguagem do dia a dia. É o caso do texto que narra a vitória de Israel sobre os amorreus, no livro de Josué, capítulo 10. A expressão bíblica diz: “E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou dos seus inimigos” (vers. 13). Na verdade, sabemos, ao estudar em geografia os movimentos de rotação e translação da terra , que não foi o sol quem parou, foi o movimento de rotação da terra que pode ter ficado mais lento – como diz a continuidade do versículo: “o sol… não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro” – ou ter parado totalmente. Fato é que, ao usar uma expressão popular para descrever algo cientificamente comprovado, a Bíblia não está se contradizendo. Mesmo porque, a Bíblia não é um livro científico, nem histórico, nem filosófico, ela contém elementos textuais dessas áreas de estudo.

Norman Geisler e Thomas Howe, em Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia (1999), explicam que as alegações de erros na Bíblia feitas pelos críticos enquadram-se, na verdade, em erros que eles mesmos cometem ao analisar os textos bíblicos. E dentre esses erros está o de achar que a Bíblia deveria usar uma linguagem técnica. Eles explicam ainda que:

"Para que algo seja verdadeiro, não é
necessário fazer uso de uma linguagem erudita,
técnica ou, assim chamada, “científica”.
A Bíblia foi escrita para pessoas comuns de
todas as gerações, e, portanto, emprega a linguagem
comum, do diaadia. O uso de uma
linguagem nãocientífica não vai de encontro à
ciência, pois ela é anterior à ciência. As Escrituras
foram escritas em tempos antigos, com
padrões antigos, e seria algo anacrônico impor
sobre elas padrões científicos modernos. Contudo,
não é menos científico falar que “o sol se
deteve” (Js 10.13) do que se referir ao “nascer
do sol” (Js 1.15). Ainda hoje os metereologistas
mencionam todo dia sobre a hora do “nascer”
e do “pôr do sol”(GEISLER; HOWE,
1999, p. 26).

Dessa forma, sabemos que existe ciência na Bíblia, assim como existe matemática, física e biologia, mesmo que não encontremos nos seus termos técnicos as descrições dessas áreas. Porém, para conseguirmos demonstrar a veracidade das informações que a Bíblia nos apresenta, é necessário algum conhecimento de determinadas ciências. Veja bem, não estou dizendo que para “crermos” naquilo que a Bíblia nos apresenta precisamos conhecer a ciência. Estou dizendo que para “demonstrarmos” a verdade dessas informações precisamos de ciências auxiliares à Teologia. O apologista cristão, portanto, deve saber algo de história, filosofia e outros campos de estudos científicos como a paleontologia, a física, a matemática,a química, a biologia e a arqueologia (áreas de conhecimento científico que “auxiliam”, e não “substituem” o estudo da revelação de
Deus).


Para saber mais, adquira CRISTIANISMO INTELIGENTE, a fé em harmonia com o intelecto, entrando em contato comigo através do e-mail: c.nias@hotmail.com

Deus vos abençoe,
Cláudio Ananias