Como indicado na postagem anterior, vou expor alguns assuntos como exemplos onde a aplicação do uso do intelecto pode ser útil numa abordagem sobre os elementos da fé cristã.
DEUS E SUA EXISTÊNCIA
O professor da UFRN, Tassus Lycurgo, em entrevistas e palestras sobre essa temática, tem sempre chamado a atenção para fatos científicos em favor da existência de Deus. Ele coloca que, para a ciência, era muito confortável dizer que o universo era eterno. Por quê? “No momento que a ciência leva para a idéia de que o universo teve uma origem, a questão que se levanta é: quem deu causa a essa origem? Tudo que tem um inicio tem uma causa. (não é tudo que existe que tem uma causa, é tudo que tem um início. Há coisas que não tiveram um início e, portanto não tiveram causa. Deus é um exemplo). Quando se achava que o universo era eterno, não se fazia sentido perguntar quem deu origem ao universo. Quando a própria ciência, não a religião, passa a dar idéias e passa a comprovar que o universo teve uma origem, ela se obriga a aceitar que há uma causa”.
Em seqüência, ele elenca seis elementos que comprovam a origem do universo:
1. A constatação da segunda lei da termodinâmica, a entropia. As coisas naturalmente tendem a um estado maior de desorganização, tudo tende a se desorganizar. Se é assim, é porque em algum momento eles estavam organizados, isso mostra que houve um início. Uma evidência científica contra o que a própria ciência gostaria.
2. O Telescópio Espacial Hubble. Hubble, um astrônomo estadunidense, em seu telescópio verificou visualmente que as galáxias estavam em expansão, saindo do ponto de observação. Mais uma prova de que o universo estava reunido em algum momento do passado.
3. A radiação de fundo descoberta por Arno Penzias e Robert Wilson. Eles ouviram ruídos na antena do laboratório e ao tentar eliminar esse ruído não conseguiram. Colocaram a antena para vários direcionamentos e o ruído persistia. Então verificaram que o padrão de ruído era exatamente aquele previsto para o calor e a luz proveniente da origem do universo.
4. A relatividade é outro exemplo de que o universo teve uma origem. Einstein quando cria a teoria da relatividade, passa a dar um modelo de universo com origem. Sem querer aceitar essa constatação, ele coloca uma constante na teoria da relatividade para dar a ela uma leitura de universo sem origem. Entretanto, ao proceder assim, seus cálculos começam a dar errado. A constante cosmológica, portanto, é descrita por Einstein como seu maior erro.
5. O universo em expansão de forma acelerada. O prêmio Nobel de física (2011) foi para um grupo de cientistas que descobriu que o universo não só está em expansão, mas está em expansão de forma acelerada. Tudo isso demonstrando que o universo teve uma origem.
6. Urânio radioativo. Na química, se você pegar urânio radioativo e deixar que ele fique no transcorrer do tempo, ele se transformará em chumbo, decaindo para o chumbo. Ora, se nós ainda temos urânio radioativo hoje, é porque eles ainda não tiveram tempo suficiente para se transformar em chumbo. Assim, se o universo fosse eterno, ele teria tempo mais do que suficiente para isso. (Existem vários vídeos do professor Tassus Lycurgo no site youtube. Um dos mais vistos contém sua entrevista no programa café filosófico da TV Universitária – UFRN, com o tema “Deus Existe?”).
Além dos pontos supracitados, temos pelo menos três outros caminhos racionais, apontados pelo filósofo cristão Willian Lane Craig, que investigam a existência de Deus de forma a confirmá-la. São os argumentos: Cosmológico (cosmo: universo): 1) Tudo que começa a existir tem uma causa. 2) O universo começou a existir. 3) Portanto, o universo tem uma causa. Teleológico (teleo: finalidade): 1) O ajuste do universo, ou se deve a necessidade física, ou ao acaso, ou ao design. 2) Não se deve a necessidade física ou ao acaso. 3) Logo, o ajuste se deve ao design; e Axiológico (axio = valor), ou Argumento Moral. 1) Se Deus não existe, valores e deveres morais objetivos não existem. 2) Valores e deveres morais objetivos existem. 3) Portanto, Deus existe (Craig aborda de forma elucidativa esses e outros argumentos, comentando cada uma das premissas e conclusões do argumento. Eles estão em seus dois livros Apologética Contemporânea e Em Guarda, ambos traduzidos no Brasil pela editora Vida Nova).
Considerando o argumento cosmológico, a idéia de que o universo teve uma origem coloca o físico ateu diante de duas alternativas: ou ele defende que o nada criou o tudo a partir do nada, ou que Deus criou o tudo a partir do nada. A segunda opção é mais admissível. Por esses e outros argumentos concluímos que, como disse Lycurgo, “é muito mais razoável crer em Deus do que professar a sua inexistência.”.
FÉ E CIÊNCIA
Cientistas ateus ou agnósticos costumam dizer que a ciência é incompatível com a fé, em nosso caso, a fé cristã. Entretanto, descobertas científicas, arqueológicas e historiográficas, ao longo do tempo têm confirmado o que a Bíblia Sagrada já indicava. Lycurco ilustra o fato de que existe compatibilidade entre ambas dizendo que, “se ciência e fé fossem coisas dissociáveis, seria o mesmo que dizer que, pelo fato da mecânica descrever o movimento do motor de um carro Ford, o criador do carro não existiu. A fé é algo que leva ao encontro da ciência. A ciência e a fé direcionam para um mesmo lugar. As descobertas científicas levam às verdades que já estão no texto bíblico”. Ele então mostra um exemplo de sua assertiva: “O prêmio Nobel de física (2011) foi para um grupo de cientistas que descobriu que o universo não só está em expansão, mas está em expansão de forma acelerada. Tudo isso demonstrando que o universo teve uma origem. A Bíblia, no livro de Gênesis, sempre defendeu isso”. Veja bem: o que prevalece na física atual é que o universo teve uma origem, contrapondo a idéia de eternidade do universo dominante nos pensadores gregos e críticos da Bíblia.
CRIACIONISMO VERSUS EVOLUCIONISMO
Diante da idéia de um escopo de matérias didáticas baseadas em evidências científicas para o criacionismo, os cientistas ateus têm se valido de outro expediente: o naturalismo filosófico. Interessante que isso tem tudo a ver com o que se chama hoje de politicamente correto. É que o naturalismo tem mais “cara” de ciência. Assim, mesmo diante das evidências científicas, os ateus preferem assumir o compromisso de apregoar um naturalismo inconfiável. Nancy Pearcey indica que, em ambientes educacionais “as únicas teorias consideradas aceitáveis são as naturalistas”. E aí, veja o absurdo da citação do famoso ateu Richard Dawkins: “Mesmo que não existam verdadeiras evidências a favor da teoria darwinista, [...] ainda assim estaríamos justificados em preferi-la acima de todas as outras teorias”. E Nancy Pearcey conclui: “Por quê? Porque é naturalista” (Apud Verdade Absoluta: libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Nancy Pearcey. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. Pág. 189. Dawkins faz essas e outras afirmações absurdas em seu livro O Relojoeiro Cego: A teoria da Evolução contra o Desígnio Divino, porém todas elas já foram largamente refutadas por filósofos e cientistas cristãos.).
Esse ateu e professor de biologia já foi criticado, em razão de seus escritos sem fundamento científico, por seus pares e em revistas como a Prospect, que aborda sempre temas da atualidade. Veja a conclusão da resenha sobre Deus, um delírio, a obra mais propagada de Dawkins: “indolente, dogmática, vaga e autocontraditória” (Citado pelo colega de Richard Dawkins na Universidade de Oxford, Alister McGrath, que escreveu O Delírio de Dawkins: uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. Pág. 17.).
Aqui no Brasil, temos o cientista criacionista Marcos N. Eberlin, bioquímico e professor doutor titular da Universidade Estadual de Campinas que tem se destacado por suas pesquisas sobre uma técnica para medir massas e composições de moléculas e pelas palestras onde critica a teoria da evolução. Usando argumentos científicos, ele tem afirmado que a ciência produz cada vez mais elementos que aludem a uma mente inteligente por detrás de toda a criação. Ele disse em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que não aceita a evolução “porque as evidências químicas que tenho falam contra ela. Essa teoria é uma falácia” (Reproduzido na revista Eclésia, ano 16, número 153, março/2012, pág. 42).
Alguns questionamentos colocados por Eberlin são: “Será que a Vida, uma coleção de máquinas moleculares e de processos e ciclos intrincados e automatizados, regidos por moléculas e macromoléculas, muitas delas homoquirais, e por variadas e extensas redes de interações químicas intra, inter, super e supramoleculares, seria explicada somente por um ramo do saber científico, por comparação de seus códigos – eu e você parecidos com macacos, mas também com bananas? Será que a ciência deveria partir de pressupostos e preconceitos e filtrar com eles suas conclusões? Uma ciência pré-conceituosa?”
SE DEUS É BOM, POR QUE O MAL EXISTE?
Essa pergunta sempre é usada por filósofos que tentam desacreditar a bondade de Deus, ou sua existência como propagada nos círculos cristãos. Se Deus criou o mundo, criou também o mal? E aí logo concluem: se Deus realizou a criação com base em um ato consciente e voluntário, ele pode ser considerado responsável pela imperfeição do mundo.
Duas respostas racionais, e que encaminham para as assertivas bíblicas sobre a questão, podem ser vistas em Agostinho e C. S. Lewis. Agostinho de Hipona, grande filósofo cristão, responde essa indagação com simplicidade ao afirmar que “o mal, em si mesmo, não existe, é ausência, limitação do bem. O mal é puro não ser, assim como a escuridão não tem uma realidade substancial, mas existe somente por via negativa, como ausência de luz” (Em Antologia Ilustrada de Filosofia: Das origens à idade moderna. Ubaldo Nicola. São Paulo: Editora Globo, 2005. Pág. 134.). Em suma, a ausência de luz produz trevas, a ausência da perfeição produz defeito, a ausência do bem produz o mal, por conseguinte, o mal é a ausência de Deus.
Vejamos agora como C. S. Lewis coloca a questão: “Meu argumento contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa idéia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha reta. Com o que eu comparava o universo quando o chamava de injusto? Se o espetáculo inteiro era ruim do começo ao fim, como é que eu, fazendo parte dele, podia ter uma reação assim tão violenta? Um homem sente o corpo molhado quando entra na água porque não é um animal aquático; um peixe não se sente assim. É claro que eu poderia ter desistido da minha idéia de justiça dizendo que ela não passava de uma idéia particular minha. Se procedesse assim, porém, meu argumento contra Deus também desmoronaria – pois depende da premissa de que o mundo é realmente injusto, e não de que simplesmente não agrada aos meus caprichos pessoais. Assim, no próprio ato de tentar provar que Deus não existe – ou, por outra, que a realidade como um todo não tem sentido -, vi-me forçado a admitir que uma parte da realidade - a saber, minha idéia de justiça – tem sentido, sim. Ou seja, o ateísmo é uma solução simplista. Se o universo inteiro não tivesse sentido, nunca perceberíamos que ele não tem sentido – do mesmo modo que, se não existisse luz no universo e as criaturas não tivessem olhos, nunca nos saberíamos imersos na escuridão. A própria palavra escuridão não teria significado.” (Cristianismo Puro e Simples. C. S. Lewis. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. Pág. 51).
A BÍBLIA E SUA CONFIABILIDADE
Como a Bíblia Sagrada é o manual do cristão, a revelação escrita de Deus a humanidade, ela também será alvo dos críticos e seus preconceitos. Eles dirão que as descobertas arqueológicas não confirmam as narrativas bíblicas, que os documentos históricos não apóiam o conteúdo dos livros, que ela está cheia de contradições, que não há como o texto original ter sido preservado e, portanto, ela não é inspirada por Deus.
Porém, tais investidas podem ser neutralizadas também por uma gama de argumentos racionais, tais como os de John Drane, no excelente conteúdo de A Bíblia, fato ou fantasia? Ele coloca, por exemplo, que “O desenvolvimento de procedimentos arqueológicos confiáveis teve amplas repercussões para a compreensão da Bíblia. Era agora possível ver o mundo bíblico através dos olhos de outras pessoas além dos escritores bíblicos. Desde os dias inebriantes do Iluminismo, os pensadores racionalistas do ocidente suspeitavam, embora não pudessem provar, que a Bíblia era de alguma forma falha, e não se podia confiar nela para obter um relato confiável das coisas como realmente eram. Com as novas descobertas que estavam vindo à luz, o povo moderno podia observar os mesmos eventos da perspectiva dos assírios, babilônios e outros povos antigos, e ver quem estava falando realmente a verdade!” (A Bíblia, fato ou fantasia? John Drane. São Paulo: Bompastor Editora, 2001. Pág. 73.).
Josh McDowell argumenta a favor da veracidade das Escrituras, considerando que a narrativa bíblica pode e deveria sempre ser testada pelos mesmos critérios com que são julgados todos os documentos históricos. Então, ele cita o historiador C. Sanders, que indica os três princípios básicos de historiografia: o teste bibliográfico, o da evidência interna e o da evidência externa (Mais Que um Carpinteiro. Josh McDowell. Belo Horizonte: Editora Betânia, 1989. Pág. 47). Cada um é explicado da seguinte maneira:
1. O teste bibliográfico – exame de transmissão textual pelo qual os documentos chegaram até nós. Se não existe o autógrafo (documento original), considera-se o índice de fidelidade das cópias em relação a quantidade de manuscritos e o intervalo de tempo entre o original e a cópia mais antiga. A Bíblia Sagrada passa por esse teste, e de longe supera qualquer peça literária antiga. Assim, o texto que possuímos é o mesmo que foi registrado originalmente.
2. O teste da evidência interna – o texto não se contradiz. No caso da Bíblia, as aparentes contradições são dirimidas com um estudo honesto, que considera contexto, lingüística, gêneros literários, geografia, antropologia, cronologia e traduções, dentre outros.
3. O teste da evidência externa – quais as outras fontes existentes que apóiam a exatidão, credibilidade e autenticidade do documento em análise? O testemunho da história e da arqueologia sempre comprova a veracidade das informações bíblicas.
Quanto os críticos alegam haver discrepâncias na Bíblia, eles não consideram que algumas interpretações tendem a não levar em conta costumes antigos e modos de falar, que a produção do texto teve dificuldades cronológicas, números arredondados, palavras hebraicas e gregas que têm mais de um significado, que a linguagem da Bíblia não é científica e a terminologia científica só se desenvolveu a partir do século XIX.
A contraposição à crítica da impossibilidade do texto original ter se resguardado ao longo do tempo é exatamente a comprovação do inverso. O pastor Ciro Zibordi indica que “A preservação do conteúdo da Bíblia, ao longo dos séculos, é a maior evidência externa da sua autenticidade... o texto bíblico do Antigo Testamento que usamos é mais preciso do que os textos antigos de obras clássicas, como a Ilíada, de Homero, ou os trabalhos de Aristóteles, Platão, etc.” (Ciro Zibordi em http://cirozibordi.blogspot.com.br/2012/12/a-biblia-e-confiavel-ou-foi-mudada-pelo.html. Acessado em 03/06/13). E, de fato, a despeito da Bíblia ter mais manuscritos existentes hoje do que qualquer outra literatura clássica antiga, a comparação desses documentos não apresenta mudanças expressivas na mensagem. Dave Hunt dá um exemplo disso quando diz que “os manuscritos de Isaías encontrados com os do mar Morto não apresentavam nenhuma variação significativa em mil anos de cópias. Em contraste... há muitas questões que dizem respeito ao texto de Shakespeare, que tem apenas quatrocentos anos de idade” (Em Defesa da Fé Cristã. Dave Hunte. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. Pág. 73.).
As razões citadas já indicam que o conteúdo da Bíblia é, no mínimo, extraordinário. Mas Norman Geisler afirma que é possível os filósofos contra-argumentarem na tentativa de neutralizar a lógica da argumentação. Não serão os argumentos lógicos que farão a pessoa decidir-se favoravelmente à verdade bíblica como inspiração de Deus. “E, ainda que tal argumentação comprovasse a inspiração da Bíblia, não se concluiria daí que os argumentos conseguiriam persuadir e satisfazer a todos”. Porém, ele faz uma bela ilustração, considerando as evidências alocadas concernentes à inspiração bíblica e as evidências internas e externas: “... se a Bíblia estivesse sob julgamento num tribunal, e fizéssemos parte do júri, e devêssemos apresentar um veredicto, com base num exame global, completo, das reivindicações e das credenciais alegadas da Bíblia como Escrituras Sagradas, inspiradas por Deus, seríamos compelidos a votar da seguinte forma: ‘A Bíblia é culpada de ser inspirada, conforme acusação’” (Introdução Bíblica. Norman Geisler e William Nix. São Paulo: Editora Vida, 2006. Pág. 59).
Já o pastor Antônio Gilberto, tratando da mesma temática, em sua clássica obra A Bíblia Através dos Séculos, traz um raciocínio lógico e simples que conclui: “Deus é o único que pode ter sido o autor da Bíblia, por que: a) Homens ímpios jamais iriam produzir um livro que sempre os está condenando; b) Homens justos e piedosos jamais cometeriam o crime de escreverem um livro e depois fazerem o mundo crer que esse livro é obra de Deus” (A Bíblia Através dos Séculos. Antônio Gilberto. Rio de Janeiro: CPAD, 1986. Pág. 48.).
Em suma, a Bíblia é um livro antigo peculiar comparado com qualquer outro livro. São 66 livros, produzido por cerca de 40 escritores, num período de mais ou menos 1500 anos, onde há livros sobre história, pensamento teológico, pensamento filosófico, em forma de poesia e etc, e que, conectando todos eles não haverá uma só contradição. Nos dias do violento imperador romano Diocleciano, foram destruídos quantas cópias acharam das Escrituras. Ele mandou que se vasculhassem, durante dez anos, todo o império para destruir todas as cópias da Bíblia, porém, só do Novo Testamento, sabemos que há mais de cinco mil manuscritos existentes ainda hoje. Se formos considerar o Antigo Testamento, o número ultrapassa os dez mil. A Ilíada de Homero está em segundo lugar com aproximadamente 600 cópias. A comparação dos manuscritos da Bíblia existentes atualmente comprova a inexistência de variação significativa em mil anos de cópias. Tudo isso e outras questões não levantadas reforçam a crença de que este livro é de autoria de Deus.
CONCLUSÃO
Como afirmou Willian Lane Craig, o Espírito Santo “pode agir também por meio da argumentação racional. Devemos apelar à mente, e não apenas ao coração. Se um incrédulo faz a objeção de que a Bíblia não é confiável porque é uma tradução de uma tradução de uma tradução, a resposta não está em dizer-lhe que se acerte com Deus. A resposta está em explicar que temos excelentes manuscritos da Bíblia nas línguas grega e hebraica – e depois dizer-lhe que se acerte com Deus!”.
Precisamos estar equipados com argumentações lógicas a favor da nossa crença, para o embate em benefício da fé, embora saibamos que ela mesma não está apoiada estritamente em razões lógicas. Há este apoio também.
Cláudio Ananias
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
O intelecto não conflita com a fé cristã
“Devemos mostrar que nossas Escrituras não estão em conflito com o que quer que possa demonstrar a natureza das coisas a partir de fontes confiáveis” (Expressão de Agostinho, citada por Rick Nañez no livro Pentecostal de Coração e Mente, pág. 295)
Antes de demonstrar a possibilidade de vivenciar a fé cristã exercitada pelo intelecto (em uma próxima postagem), utilizando alguns excertos exemplificativos, gostaria de considerar rapidamente três questões: primeiro, a ausência de estímulo intelectual nos ambientes cristãos recentes; segundo, a viabilidade de uma apologética cristã sem os termos bíblicos costumazes e, terceiro, a consciência de que argumentos racionais não são em si, aquilo que convence e converte, existe um poder místico num outro plano dimensional que é capaz e necessário para o processo de salvação.
Em primeiro lugar, a história do movimento pentecostal tem demonstrado que a ênfase na experiência pessoal, espiritual e emotiva trouxe seus frutos positivos para o evangelicalismo brasileiro, ao mesmo tempo em que esqueceu alguns pontos essenciais de formação cristã, e entre eles está o estímulo ao uso do intelecto. Rick Nañez, pastor pentecostal assembleiano, escreve de forma elucidativa sobre o assunto em seu livro Pentecostal de Coração e Mente (Editora Vida). Ele destaca que “a corrente elétrica do desenvolvimento intelectual” dos crentes foi interrompida em algum momento da história da igreja. Vários motivos poderiam ser apontados para este “travamento”, mas não é o foco do presente artigo. Porém, um deles pode ser colocado como ponto para reflexão: muitos discursos antiintelectuais de líderes nos púlpitos das igrejas contribuíram e ainda contribuem para o retardo intelectual dos cristãos. Como exemplo, é citado por Nañez a abordagem de uma grande autora a respeito da mente. Discutindo os motivos que trazem confusão para o povo de Deus, Joyce Meyer cita o raciocínio como o grande culpado. (Idem Pentecostal de Coração e Mente, pág. 137) Parece que a autora não se dá conta de duas coisas: primeiro, é exatamente o contrário da sua afirmação. A falta do uso do intelecto é o que tem causado muita confusão no meio do povo de Deus e, segundo, o raciocínio deve ser valorizado também com vistas nos de fora, como uma forma eficaz de evangelização. É exatamente a partir de uma compreensão como esta que será possível a defesa da fé cristã diante de exposições racionais contra ela.
Tenho verificado ultimamente que o problema do ateu e do cristão parece ser o mesmo: um não quer ler a literatura do outro. Quando um ateu resolve sinceramente examinar a Bíblia e outros livros cristãos, isento de preconceitos e levando em conta, por exemplo, dados de cronologia antiga, descobertas arqueológicas, geografia antiga, hermenêutica, lingüística, antropologia, cultura, linguagem coloquial para fatos científicos, antropomorfismos, dentre outros, há grande chance de ele se render ao sublime Deus e Sua Palavra. E quando um cristão resolve exercitar sua intelectualidade lendo autores que declaram em seus escritos não crer em Deus, logo ele é tomado pela necessidade de buscar amparo em documentação científica, não para crer, mas para equipar-se na defesa da sua crença, e assim, acaba mais convicto de que está trilhando o caminho certo. Como disse Willian Lane Craig: “A apologética fortalece a fé dos crentes em Cristo” (Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã. Willian Lane Craig, São Paulo: Vida Nova, 2012. Pág. 21).
C. S. Lewis, um dos grandes apologistas cristãos do século vinte, captou logo cedo essa necessidade. Ele assim se expressa: “Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive o cérebro... o cristianismo é em si mesmo uma educação. Foi por isso que um crente ignorante, como Bunyan, foi capaz de escrever um livro que espantou o mundo inteiro” (Cristianismo Puro e Simples. C. S. Lewis. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. Pág, 102-103).
Em segundo lugar, a expressão citada no início do texto revela algo não muito aceito em vários círculos cristãos, notadamente os pentecostais: considerar fontes externas (aquelas que não são produzidas pelo próprio círculo) como possíveis expressões da verdade, embora nem todo o conjunto da fonte seja verdadeiro. Por exemplo, um filósofo ou cientista que tenta desacreditar determinadas passagens da Bíblia Sagrada, poderá em outro momento defender, de forma direta ou indireta, outra passagem. Se esta defesa estiver em um de seus escritos, será por isso desconsiderada como verdade? Discordar de um posicionamento de determinada pessoa ou grupo significa que ‘tudo’ que essa pessoa ou grupo disser estará errado?
Sabemos que muitos erram num ponto de discussão e acertam em outros. Portanto, a busca pela verdade deve ser vista a partir do parâmetro formulado por Agostinho, no sentido de que “toda verdade é verdade de Deus”, não importando onde ela esteja. No entanto, esta não é a compreensão que circunda a maioria dos cristãos brasileiros. Não estamos dispostos, num primeiro momento, a aceitar a assertiva de que podemos encontrar explicações racionais (não confundir com o racionalismo) para muitos assuntos bíblicos. Charles Finney disse em sua Teologia Sistemática: “Você foi feito para pensar... desenvolver suas capacidades pelo estudo. Deus determinou que a religião exigisse pensar, pensar intenso, e desenvolvesse nossa capacidade de pensamento. A própria Bíblia é escrita em estilo tão condensado para exigir o mais intenso estudo” (Teologia Sistemática, de Charles Finney. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. Pág. 23).
O sedentarismo intelectual dos evangélicos brasileiros explica a ignorância que se têm sobre as armas que os formadores de opinião utilizam em temas atuais como, por exemplo, a união estável entre pessoas do mesmo sexo, a educação materialista, evolucionismo versus criacionismo, a banalização do divórcio, o direito da mulher sobre seu corpo no que se refere ao aborto, o relativismo moral em detrimento da verdade absoluta e etc.
Comentando sobre a necessidade da apologética cristã como meio de evangelização, Willian Lane Craig coloca a questão indicando a utilidade que ela tem na prática do evangelismo. Várias referências são expostas tais como a do apóstolo Paulo disputando com os judeus sobre as Escrituras (At 17.2,3; 19.8; 28.23,24). Interessante que, na última referência indicada, a expressão bíblica diz que Paulo, usando a lei de Moisés e os profetas, “procurava persuadi-los à fé em Jesus”. Porém, quando a discussão era com os filósofos epicureus (que seguiam Epicuro) e estóicos (que seguiam Zeno), no Areópago, ele faz sua argumentação acrescentando às suas palavras outros filósofos como Epimênedes (Séc. VI a.C.), Cleantes e Arato (At 17.28). Em sua epístola à Tito, Paulo também cita Epimênedes novamente (Tt 1.12). Ou seja, se a expressão da verdade estiver em algum escrito secular, ela é útil na condução de argumentos que persuadam à Cristo. Não é à toa que Paulo usa expressões como “persuadimos os homens à fé” e “levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 5.11; 10.5). A propósito, outros escritos extra-bíblicos são indicados nas Escrituras, demonstrando que, embora o conteúdo total não seja inspirado, àquele citado o é, e, portanto, contêm a verdade divina. Este é o caso do Livro de Jasher, mencionado em Josué 10.13 e 2 Samuel 1.18, e o Livro de Enoque (Jd 14).
E não podemos esquecer que Paulo apóstolo, quando diz para Timóteo evitar as idéias contraditórias da “falsamente chamada ciência” (1 Tm 6.20), sua expressão sugere que existe também uma ciência verdadeira. E uma ciência verdadeira é aquela que reconhece até onde o método científico é viável na explicação de fatos, fazendo diferença entre teoria e lei científica e não insistindo em teorias que já foram descartadas pelas próprias descobertas científicas. O escritor Tim LaHaye, em seu excelente livro Um homem chamado Jesus, cita alguns nomes de acadêmicos e eruditos que foram impactados com a credibilidade das narrativas do evangelho e, portanto, souberam reconhecer até onde a ciência vai, e como ela se adéqua ao pensamento cristão. Dentre alguns nomes estão Isaac Newton, Blaise Pascal, Willian Gladstone e Louis Pasteur (Um homem chamado Jesus. Tim LaHaye. Campinas, SP: United Press, 1998. Pág. 19).
Tomás de Aquino foi um filósofo cristão e grande expoente da Escolástica, uma filosofia medieval que indicava o pensamento crítico e a dialética como algo perfeitamente conciliável com a fé cristã. Ele acreditava que entre fé cristã e razão não pode haver contradição. Existem coisas que podem perfeitamente ser compreendidas pela razão, como a existência de Deus, e coisas que podem ser aceitas por fé, como a Trindade. Porém, uma não contradiz a outra.
Willian Craig ainda comenta o fato de alguns grupos de pessoas reagirem a argumentos e evidências racionais, tais como engenheiros, profissionais da medicina e advogados. São pessoas que, mesmo em número menor, são grandes em influência. De fato, escritores e pregadores cristãos que enfatizam o uso do intelecto, como C. S. Lewis, Lee Strobel, Josh McDowell, Ravi Zacarias, Norman Geisler e Willian Lane Craig têm levado e estão levando muitos a Cristo.
Em terceiro lugar, e muito necessário diante do que já foi exposto, é preciso considerar a seguinte ressalva: os argumentos racionais, por melhores que sejam não se constituem armas suficientes para convencer e levar as pessoas à conversão. Se assim fosse, elementos essenciais à vida cristã como a oração, leitura bíblica, fé e a atuação do Espírito Santo, poderiam ser descartados e a própria prática da vida cristã não faria sentido. O objetivo final, num processo de evangelização, é fazer com que corações endurecidos se quebrantem e rendam-se a Deus e sua Palavra. Isso se coaduna com a idéia de C. S. Lewis de que argumento racional não produz crença, mas mantêm um ambiente em que a fé possa florescer.
Como afirmou Willian Lane Craig, o Espírito Santo “pode agir também por meio da argumentação racional. Devemos apelar à mente, e não apenas ao coração. Se um incrédulo faz a objeção de que a Bíblia não é confiável porque é uma tradução de uma tradução de uma tradução, a resposta não está em dizer-lhe que se acerte com Deus. A resposta está em explicar que temos excelentes manuscritos da Bíblia nas línguas grega e hebraica – e depois dizer-lhe que se acerte com Deus!” ( Idem Apologética Contemporânea, de Willian Lane Craig. Pág. 52).
Precisamos estar equipados com argumentações lógicas a favor da nossa crença, para o embate em benefício da fé, embora saibamos que ela mesma não está apoiada estritamente em razões lógicas. Há este apoio também.
Concluo, portanto, que o uso da intelectualidade numa abordagem sobre os elementos da fé cristã é necessário. Principalmente em ambientes acadêmicos. E o uso de outras fontes, além da nossa fonte primaz, a Bíblia Sagrada, também é necessário.
Cláudio Ananias
Antes de demonstrar a possibilidade de vivenciar a fé cristã exercitada pelo intelecto (em uma próxima postagem), utilizando alguns excertos exemplificativos, gostaria de considerar rapidamente três questões: primeiro, a ausência de estímulo intelectual nos ambientes cristãos recentes; segundo, a viabilidade de uma apologética cristã sem os termos bíblicos costumazes e, terceiro, a consciência de que argumentos racionais não são em si, aquilo que convence e converte, existe um poder místico num outro plano dimensional que é capaz e necessário para o processo de salvação.
Em primeiro lugar, a história do movimento pentecostal tem demonstrado que a ênfase na experiência pessoal, espiritual e emotiva trouxe seus frutos positivos para o evangelicalismo brasileiro, ao mesmo tempo em que esqueceu alguns pontos essenciais de formação cristã, e entre eles está o estímulo ao uso do intelecto. Rick Nañez, pastor pentecostal assembleiano, escreve de forma elucidativa sobre o assunto em seu livro Pentecostal de Coração e Mente (Editora Vida). Ele destaca que “a corrente elétrica do desenvolvimento intelectual” dos crentes foi interrompida em algum momento da história da igreja. Vários motivos poderiam ser apontados para este “travamento”, mas não é o foco do presente artigo. Porém, um deles pode ser colocado como ponto para reflexão: muitos discursos antiintelectuais de líderes nos púlpitos das igrejas contribuíram e ainda contribuem para o retardo intelectual dos cristãos. Como exemplo, é citado por Nañez a abordagem de uma grande autora a respeito da mente. Discutindo os motivos que trazem confusão para o povo de Deus, Joyce Meyer cita o raciocínio como o grande culpado. (Idem Pentecostal de Coração e Mente, pág. 137) Parece que a autora não se dá conta de duas coisas: primeiro, é exatamente o contrário da sua afirmação. A falta do uso do intelecto é o que tem causado muita confusão no meio do povo de Deus e, segundo, o raciocínio deve ser valorizado também com vistas nos de fora, como uma forma eficaz de evangelização. É exatamente a partir de uma compreensão como esta que será possível a defesa da fé cristã diante de exposições racionais contra ela.
Tenho verificado ultimamente que o problema do ateu e do cristão parece ser o mesmo: um não quer ler a literatura do outro. Quando um ateu resolve sinceramente examinar a Bíblia e outros livros cristãos, isento de preconceitos e levando em conta, por exemplo, dados de cronologia antiga, descobertas arqueológicas, geografia antiga, hermenêutica, lingüística, antropologia, cultura, linguagem coloquial para fatos científicos, antropomorfismos, dentre outros, há grande chance de ele se render ao sublime Deus e Sua Palavra. E quando um cristão resolve exercitar sua intelectualidade lendo autores que declaram em seus escritos não crer em Deus, logo ele é tomado pela necessidade de buscar amparo em documentação científica, não para crer, mas para equipar-se na defesa da sua crença, e assim, acaba mais convicto de que está trilhando o caminho certo. Como disse Willian Lane Craig: “A apologética fortalece a fé dos crentes em Cristo” (Apologética Contemporânea: a veracidade da fé cristã. Willian Lane Craig, São Paulo: Vida Nova, 2012. Pág. 21).
C. S. Lewis, um dos grandes apologistas cristãos do século vinte, captou logo cedo essa necessidade. Ele assim se expressa: “Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que estará embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive o cérebro... o cristianismo é em si mesmo uma educação. Foi por isso que um crente ignorante, como Bunyan, foi capaz de escrever um livro que espantou o mundo inteiro” (Cristianismo Puro e Simples. C. S. Lewis. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. Pág, 102-103).
Em segundo lugar, a expressão citada no início do texto revela algo não muito aceito em vários círculos cristãos, notadamente os pentecostais: considerar fontes externas (aquelas que não são produzidas pelo próprio círculo) como possíveis expressões da verdade, embora nem todo o conjunto da fonte seja verdadeiro. Por exemplo, um filósofo ou cientista que tenta desacreditar determinadas passagens da Bíblia Sagrada, poderá em outro momento defender, de forma direta ou indireta, outra passagem. Se esta defesa estiver em um de seus escritos, será por isso desconsiderada como verdade? Discordar de um posicionamento de determinada pessoa ou grupo significa que ‘tudo’ que essa pessoa ou grupo disser estará errado?
Sabemos que muitos erram num ponto de discussão e acertam em outros. Portanto, a busca pela verdade deve ser vista a partir do parâmetro formulado por Agostinho, no sentido de que “toda verdade é verdade de Deus”, não importando onde ela esteja. No entanto, esta não é a compreensão que circunda a maioria dos cristãos brasileiros. Não estamos dispostos, num primeiro momento, a aceitar a assertiva de que podemos encontrar explicações racionais (não confundir com o racionalismo) para muitos assuntos bíblicos. Charles Finney disse em sua Teologia Sistemática: “Você foi feito para pensar... desenvolver suas capacidades pelo estudo. Deus determinou que a religião exigisse pensar, pensar intenso, e desenvolvesse nossa capacidade de pensamento. A própria Bíblia é escrita em estilo tão condensado para exigir o mais intenso estudo” (Teologia Sistemática, de Charles Finney. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. Pág. 23).
O sedentarismo intelectual dos evangélicos brasileiros explica a ignorância que se têm sobre as armas que os formadores de opinião utilizam em temas atuais como, por exemplo, a união estável entre pessoas do mesmo sexo, a educação materialista, evolucionismo versus criacionismo, a banalização do divórcio, o direito da mulher sobre seu corpo no que se refere ao aborto, o relativismo moral em detrimento da verdade absoluta e etc.
Comentando sobre a necessidade da apologética cristã como meio de evangelização, Willian Lane Craig coloca a questão indicando a utilidade que ela tem na prática do evangelismo. Várias referências são expostas tais como a do apóstolo Paulo disputando com os judeus sobre as Escrituras (At 17.2,3; 19.8; 28.23,24). Interessante que, na última referência indicada, a expressão bíblica diz que Paulo, usando a lei de Moisés e os profetas, “procurava persuadi-los à fé em Jesus”. Porém, quando a discussão era com os filósofos epicureus (que seguiam Epicuro) e estóicos (que seguiam Zeno), no Areópago, ele faz sua argumentação acrescentando às suas palavras outros filósofos como Epimênedes (Séc. VI a.C.), Cleantes e Arato (At 17.28). Em sua epístola à Tito, Paulo também cita Epimênedes novamente (Tt 1.12). Ou seja, se a expressão da verdade estiver em algum escrito secular, ela é útil na condução de argumentos que persuadam à Cristo. Não é à toa que Paulo usa expressões como “persuadimos os homens à fé” e “levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Co 5.11; 10.5). A propósito, outros escritos extra-bíblicos são indicados nas Escrituras, demonstrando que, embora o conteúdo total não seja inspirado, àquele citado o é, e, portanto, contêm a verdade divina. Este é o caso do Livro de Jasher, mencionado em Josué 10.13 e 2 Samuel 1.18, e o Livro de Enoque (Jd 14).
E não podemos esquecer que Paulo apóstolo, quando diz para Timóteo evitar as idéias contraditórias da “falsamente chamada ciência” (1 Tm 6.20), sua expressão sugere que existe também uma ciência verdadeira. E uma ciência verdadeira é aquela que reconhece até onde o método científico é viável na explicação de fatos, fazendo diferença entre teoria e lei científica e não insistindo em teorias que já foram descartadas pelas próprias descobertas científicas. O escritor Tim LaHaye, em seu excelente livro Um homem chamado Jesus, cita alguns nomes de acadêmicos e eruditos que foram impactados com a credibilidade das narrativas do evangelho e, portanto, souberam reconhecer até onde a ciência vai, e como ela se adéqua ao pensamento cristão. Dentre alguns nomes estão Isaac Newton, Blaise Pascal, Willian Gladstone e Louis Pasteur (Um homem chamado Jesus. Tim LaHaye. Campinas, SP: United Press, 1998. Pág. 19).
Tomás de Aquino foi um filósofo cristão e grande expoente da Escolástica, uma filosofia medieval que indicava o pensamento crítico e a dialética como algo perfeitamente conciliável com a fé cristã. Ele acreditava que entre fé cristã e razão não pode haver contradição. Existem coisas que podem perfeitamente ser compreendidas pela razão, como a existência de Deus, e coisas que podem ser aceitas por fé, como a Trindade. Porém, uma não contradiz a outra.
Willian Craig ainda comenta o fato de alguns grupos de pessoas reagirem a argumentos e evidências racionais, tais como engenheiros, profissionais da medicina e advogados. São pessoas que, mesmo em número menor, são grandes em influência. De fato, escritores e pregadores cristãos que enfatizam o uso do intelecto, como C. S. Lewis, Lee Strobel, Josh McDowell, Ravi Zacarias, Norman Geisler e Willian Lane Craig têm levado e estão levando muitos a Cristo.
Em terceiro lugar, e muito necessário diante do que já foi exposto, é preciso considerar a seguinte ressalva: os argumentos racionais, por melhores que sejam não se constituem armas suficientes para convencer e levar as pessoas à conversão. Se assim fosse, elementos essenciais à vida cristã como a oração, leitura bíblica, fé e a atuação do Espírito Santo, poderiam ser descartados e a própria prática da vida cristã não faria sentido. O objetivo final, num processo de evangelização, é fazer com que corações endurecidos se quebrantem e rendam-se a Deus e sua Palavra. Isso se coaduna com a idéia de C. S. Lewis de que argumento racional não produz crença, mas mantêm um ambiente em que a fé possa florescer.
Como afirmou Willian Lane Craig, o Espírito Santo “pode agir também por meio da argumentação racional. Devemos apelar à mente, e não apenas ao coração. Se um incrédulo faz a objeção de que a Bíblia não é confiável porque é uma tradução de uma tradução de uma tradução, a resposta não está em dizer-lhe que se acerte com Deus. A resposta está em explicar que temos excelentes manuscritos da Bíblia nas línguas grega e hebraica – e depois dizer-lhe que se acerte com Deus!” ( Idem Apologética Contemporânea, de Willian Lane Craig. Pág. 52).
Precisamos estar equipados com argumentações lógicas a favor da nossa crença, para o embate em benefício da fé, embora saibamos que ela mesma não está apoiada estritamente em razões lógicas. Há este apoio também.
Concluo, portanto, que o uso da intelectualidade numa abordagem sobre os elementos da fé cristã é necessário. Principalmente em ambientes acadêmicos. E o uso de outras fontes, além da nossa fonte primaz, a Bíblia Sagrada, também é necessário.
Cláudio Ananias
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