Para o segundo encontro do grupo de estudo Cosmovisão Cristã, vamos tomar como texto base parte do capítulo 4 do livro Verdade Absoluta, de Nancy Pearcey: "Sobrevivendo no período espiritualmente estéril".
Nesse capítulo, a autora conta um pouco de seu testemunho pessoal, especialmente na adolescência, quando ela teve contato com literaturas seculares e, posteriormente, com os escritos de Francis Schaeffer. Ela também escreve sobre a necessidade de se construir uma cosmovisão cristã, e uma cultura, a partir da história bíblica da Criação, da Queda e da Redenção em Jesus Cristo. Ou seja, como dito pelo professor de ciência política David Koyzis (ver link), "estabelecer e consolidar as instituições a fim de levar esta história, visando explorar as implicações dela para toda a vida e ver ela entregue à geração mais jovem. Isso significa que tanto a educação e o evangelismo devem ser as principais prioridades para a comunidade cristã.". Segue o texto:
Sobrevivendo no Período
espiritualmente estéril
"[Uma cosmovisão cristã]
envolve três dimensões fundamentais: a boa
criação original, a perversão
dessa criação pelo pecado e a
restauração dessa criação em
Cristo."
Aldert
Wolters
"Em minha adolescência,fui procurar livros
sobre cristianismo na biblioteca da universidade, vagando pelos corredores como
uma criança na floresta. Havia acabado de concluir o Ensino Fundamental, quando
tivera uma aula de história intelectual ensinada por um professor que era ateu
militante. Para mim, isso não tinha importância, visto que eu já rejeitara a fé
cristã em que fora criada e estava à procura de minha própria verdade. Até
tinha feito um trabalho acadêmico para a classe sobre as razões de eu não
considerar o cristianismo digno de crédito.
Mas, para minha grande surpresa, quando
ele leu o trabalho, o próprio professor ateísta me exortou a ir mais
devagar:"Certifique-se de que você sabe o que está rejeitando antes de
tentar algo novo", disse-me ele. "Por que você não pesquisa alguns
livros sobre filosofia cristã antes de rejeitar o cristianismo?"
Ele me garantiu que era perfeitamente
possível ser "cristão de inclinação liberal" (ou, de forma
inversa,"ateu de mente fechada"), assim eu não precisava criticar com
tanta severidade minha formação familiar para fazer uma investigação honesta e
imparcial da verdade.
Sem nunca ter ouvido falar que havia
filosofia (em vez de teologia) cristã, dirigi-me à biblioteca da universidade e
procurei no fichado o título "Filosofia — Cristã". Indo em direção às
estantes, tirei um livro intitulado Behold the Spírit (Eis o Espírito),
de Alan Watts. Quem está familiarizado com a contracultura dos anos sessenta,
reconhecerá de imediato que eu caíra numa armadilha: Watts foi figura
fundamental na apresentação das religiões orientais para o ocidente, e apesar
de o título soar cristão, o tema do livro era que se investigarmos além dos
detalhes superficiais, o cristianismo de fato ensina as mesmas coisas que o
misticismo oriental. Na realidade, Watts ensinava que todas as religiões
são mera janela cultural que se ajusta a um centro comum de crenças — uma
"filosofia perene" —, que considera que tudo é emanação do ser
divino.
Eu freqüentara a igreja por toda a minha
vida (meus pais cuidaram disso) e também a escola primária luterana. Ao longo
dos anos, memorizara hinos, versículos bíblicos, os credos e o catecismo
luterano, e sou imensamente grata por essa formação. Nunca aprendera nada sobre
apologética, ou recebera ferramentas para analisar idéias, ou fora ensinada a
defender o cristianismo contra os outros "ismos". Quando li o livro
de Watts, fiquei encantada. Por repetidas idas à livraria, levei para casa mais
de seus livros, e as obras de Aldous Huxley (que promovia a mesma
"filosofia perene") e de Teilhard de Chardin (que oferecia um
evolucionismo espiritual místico).2
A única pessoa que olhava por cima do meu
ombro para ver o que eu lia e oferecia uma perspectiva crítica era meu
problemático irmão mais velho Karl. Ele era irritante o bastante para dizer que
o conteúdo desses livros divergia tremendamente do cristianismo ortodoxo. Mas
claro que era por isso mesmo que eram fascinantes. Se eu pudesse explorar as
idéias religiosas exóticas e, ao mesmo tempo, agarrar-me ao genuíno cerne
místico do cristianismo, como prometiam esses livros, tanto melhor seria.
O episódio ilustra uma das razões mais
importantes para desenvolver uma cosmovisão cristã: proteger-se da assimilação
inadvertida de filosofias estranhas. Como tantos jovens, eu conhecia o teor da
Bíblia, mas não fazia idéia de como relacionar a doutrina bíblica ao reino das
idéias e ideologias. Quando entrei no mundo intelectual fora do círculo da
família e da igreja, eu era um alvo fácil. Não dispunha de nenhuma ferramenta
conceituai para repelir os desafios à fé.
"Estai sempre preparados para
responder [fazer uma defesa] com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a
razão da esperança que há em vós", diz Pedro (1 Pe 3.15). A palavra grega apologia
(o radical da palavra apologética) quer dizer "defesa" e
era em sua origem um termo legal; significava a resposta do acusado ao promotor
público em sala de tribunal. Mais tarde, o mesmo termo foi usado para
referir-se aos primeiros apologistas cristãos — teólogos treinados para
defender a nova fé contra o paganismo excessivo do Império Romano.
Entretanto, defender a fé não era tarefa
exclusiva dos apologistas profissionalmente treinados. Da mesma maneira que
todos os cristãos são chamados para evangelizar, assim todos têm a
responsabilidade de aprender a dar as razões (ou explicar, ou responder, ou
fazer uma defesa) que apóiem a credibilidade da mensagem do evangelho. Ao
"traduzir" a teologia cristã numa linguagem contemporânea, podemos
pô-la lado a lado com outros sistemas de pensamento e mostrar que oferece um
relato da realidade mais consistente e abrangente.
Há poucos meses vi um anúncio inteligente
que apresentava um professor caracteristicamente universitário encarando o
leitor com raiva, em cuja legenda se lia: "Conheça o primeiro professor
universitário de seu filho. Ele é professor de inglês, ateísta e marxista, que
arrasa os crentes calouros".3 Esta é de fato a imagem que
deveria vir à mente dos pais cristãos quando enviam seus filhos a universidades
seculares. Hoje, a apologética básica tornou-se habilidade crucial para a
simples sobrevivência. Sem as ferramentas da apologética, os jovens podem ter
firmes bases de estudo e doutrina bíblica; porém, mesmo assim, tropeçam
indefesos quando encaram o mundo secular sozinhos. A tragédia é representada
inúmeras vezes quando os adolescentes cristãos arrumam as malas, despedem-se
dos pais e vão para universidades seculares, apenas para perder a fé antes de
se formarem, tornando-se presas das mais recentes novidades intelectuais.
O Mistério
do Proibido
Como muitos outros apanhados na
contracultura dos anos sessenta e setenta, mergulhei na filosofia oriental,
explorei o existencialismo, li as feministas, experimentei drogas e
"descobri" que a verdade era relativa e subjetiva. Claro que para
alguns adolescentes a contracultura foi mera diversão e brincadeira, mas para
mim foi uma procura séria pela verdade e significado. Experimentei drogas
alucinógenas só depois de ler livros sobre o assunto escritos por filósofos
como Aldous Huxley, que recomendava drogas como meio de entrar na consciência
cósmica. Em As Portas
da Percepção, ele prometeu que usar alucinógenos abriria a "válvula
redutora" da racionalidade comum que restringe nossa percepção ao tedioso
mundo cotidiano. Inspirado por Huxley, mergulhei em drogas psicodélicas como
parte da busca filosófica por horizontes mais amplos da verdade.
E estranho quando olho da perspectiva de
hoje, mas li A Morte da Razão, de Francis Schaeffer, primeiro porque
pensei que era outro livro sobre drogas. Antes mesmo de ouvir falar em L'Abri,
topei com a primeira edição britânica do livro, cuja
ilustração de capa era um pouco sombria e sinistra. E o título prometia
exatamente o que eu estava procurando —, liberação da grade tediosa da
racionalidade comum. Sim, eu quero "a morte da razão",pensei
quando apanhei o livro. Claro que logo vi que o tema de Schaeffer é de modo
preciso o oposto: a irracionalidade pós-moderna é um beco sem saída, e só o
cristianismo oferece uma resposta logicamente consistente às perguntas
filosóficas básicas da vida.
Precisamos ter certeza de que nossos
filhos tenham essa mesma convicção gravada na mente: o cristianismo é apto a
defender os seus adeptos, quando desafiado no mercado de idéias. Não basta
ensinar os jovens crentes a fazer regularmente o devocional, seguir um programa
de memorização da Bíblia e unir-se a um grupo cristão na universidade.Também
precisamos prepará-los para responder aos desafios intelectuais que eles
enfrentam em sala de aula. Antes de entrarem para a faculdade, eles devem
conhecer bem todos os "ismos" que encontrarão, desde o marxismo,
passando pelo darwinismo até chegar ao pós-modernismo. É melhor que os jovens
crentes conheçam estas idéias por pais, pastores e líderes de mocidade de
confiança, que podem treiná-los em estratégias para analisar as outras
ideologias.
Ao menos essas ideologias perdem o
encanto do mistério de coisas proibidas. Quando eu era adolescente, minha irmã
mais velha me contou em linhas gerais alguns mistérios da cultura — como a
evolução e o relativismo ético —, e lembro-me de como estas idéias ficaram mais
fascinantes só porque eram algo que "a mãe nunca me contou isso". A
metodologia dominante em muitas escolas e igrejas cristãs é proteger as
crianças de ideologias não-bíblicas, e em parte isso é educacionalmente sadio.
Faz sentido proteger as crianças até que estejam prontas para lidar com idéias
complexas.Todavia, em muitos casos, os estudantes nunca são expostos a outras
idéias no ambiente familiar, nas igrejas ou escolas cristãs. Por conseguinte,
vão para o mundo sem estarem preparados para as batalhas intelectuais que logo
enfrentarão, sobretudo nas faculdades seculares.
Sem Cortina de
Fumaça
Quando estes jovens são confrontados em
sala de aula por idéias novas e plausivelmente íntegras, talvez percebam que as
pessoas em quem confiavam estavam escondendo algo deles. Podem supor que os
pais e professores não criticaram as outras idéias, porque não há boa crítica
contra elas. Talvez concluam que eles não mostraram como defender o
cristianismo, porque é indefensível.
Os estudantes também não obtêm muita
ajuda de grupos cristãos na universidade. O grupo com que me associei depois de
minha conversão era espiritualmente dedicado a Deus, mas excessivamente anti-intelectual.
Como nova crente, havia lutas em minha alma contra os "ismos" que me
foram tão sedutores nos dias anteriores à conversão, mas o grupo não sabia dar
apoio. Certo dia, quase vencida pelo relativismo influente ensinado nas aulas
de sociologia, busquei conselho de um dos líderes do grupo, pedindo de modo
desesperado algumas ferramentas intelectuais para defender a opinião de que há
a verdade genuína e objetiva; caso contrário, como ter certeza de que o cristianismo
é a verdade? Sua resposta foi conduzir a conversa para fora do território
intelectual e entrar no conhecido território espiritual: "Nancy, parece
que você está com problemas relacionados à certeza de salvação".
Mas eu tinha certeza de que fizera o que
era necessário para a salvação: em minha conversão, cumprira o procedimento
necessário, pedindo a Jesus que pagasse o preço por meus pecados, que é tudo
que Deus exige. Minhas preocupações não eram teológicas. Minha luta era com
dúvidas e reconsiderações até sobre a existência de Deus, causadas pela
atmosfera quase sufocante do relativismo em sala de aula.
Apesar do estereótipo comum, as questões
intelectuais nem sempre são mera cortina de fumaça para problemas espirituais
ou morais. A fim de ser eficaz em preparar os jovens e profissionais para
enfrentarem os desafios de uma sociedade secular altamente culta, a igreja
precisa redefinir a missão de pastores e líderes de mocidade e incluir
ensinamentos sobre apologética e cosmovisão. Precisamos parar de repelir
objeções à fé ta-chando-as de mero subterfúgio espiritual.Temos de nos preparar
para dar o que Schaeffer chamou de "respostas honestas a perguntas
honestas".
Quando os Estados Unidos eram uma nação
jovem, o ministério das igrejas era integrado por membros bastante cultos da
comunidade. A congregação os observava e respeitava suas aptidões
intelectuais.Todavia, hoje, as pessoas que estão nos bancos da igreja são tão
cultas quanto o pastor; entre a população em geral, o ministério pode até ser
menosprezado por ministros limitadamente formados. Neste clima, é imperativo
que os seminários bíblicos ampliem a formação pastoral e incluam cursos sobre
história intelectual, instruindo os futuros pastores a fazer comentários
críticos sobre as ideologias dominantes de nossos dias. Os pastores têm de
fornecer liderança intelectual às congregações, ensinando apologética no púlpito.
Toda vez que o ministro evangélico apresenta um ensino bíblico, ele também
deveria instruir a congregação sobre os modos de defender tal ensin contra as
principais objeções que possam ocorrer. Uma religião que evi a tarefa
intelectual e se retira para o reino terapêutico das relações e sentimentos
pessoais não sobreviverá no campo da batalha espiritual de hoje.
Cosmovisão
Envolvente
Passemos agora ao centro desta seção do
livro. Vamos lhe dar a chance de praticar a construção de uma cosmovisão. A
grade criação, queda, redenção é útil para diagnosticar as tradições
teológicas, como vimos em capítulos anteriores.Também fornece o andaime para
construir uma perspectiva cristã sobre qualquer tópico, além de servir de grade
para analisar outras cosmovisões.
Em qualquer campo, o modo de construir
uma perspectiva de cosmovisão cristã é fazer três conjuntos de perguntas:
1. CRIAÇÃO: Como este aspecto do mundo
foi criado em sua origem? Qual era sua natureza e seu propósito originais?
2. QUEDA: Como a criação foi torcida e
retorcida pela queda? Como foi corrompida pelo pecado e pelas falsas
cosmovisões? Sem Deus, a criação tende a ser divinizada ou endemoninhada, ou
seja, torna-se ídolo ou demônio.
3. REDENÇÃO: Como podemos colocar este
aspecto do mundo sob o senhorio de Cristo, restaurando-o ao propósito para o
qual foi originalmente criado?
Apliquemos estas categorias a algumas
áreas-chave: educação, família e uma ampla teoria social cristã.
Consertando
as Ruínas
As Escrituras exortam os pais a
transmitir as verdades bíblicas à geração seguinte. Quando os israelitas
estavam postados para entrar na Terra Prometida, Moisés enfatizou a necessidade
de transmitir a herança religiosa aos filhos: "Ensinai-as [estas minhas
palavras] a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e deitando-te, e levantando-te" (Dt 11.19). A linguagem descreve
a imagem de famílias transmitindo a fé por ensino formal e por conversas
cotidianas.
Em todos os períodos da história, os
cristãos têm se encarregado seriamente da educação, fundando escolas,
promovendo a alfabetização e preservando a herança literária da cultura em que
vivem. Depois da queda de Roma, foram os monges que preservaram as grandes
obras-primas literárias e filosóficas do mundo clássico, copiando de modo
meticuloso manuscritos antigos, bem como comentários e interpretações para
explicar o significado do texto.3 Os reformadores preconizaram o
sacerdócio de todos os crentes — a responsabilidade de cada um saber e entender
a Bíblia — e fundaram escolas de catecismo para ensinar os princípios da fé às
crianças desde tenra idade. Quando os puritanos desembarcaram no litoral
americano e começaram a clarear a mata, em apenas seis anos já tinham fundado a
primeira universidade (Harvard) para instruir os jovens no ministério e
liderança política.
Como aplicamos as categorias da criação,
queda e redenção à educação? A criação afirma que as crianças são criadas à
imagem de Deus, o que significa que elas têm a grande dignidade de ser
criaturas com a capacidade ao amor, moralidade, racionalidade, criação
artística e todas as outras aptidões exclusivamente humanas. A educação tem de
discursar sobre todos os aspectos do ser humano. Não podemos nos
contentar com uma metodologia behaviorista que trata os estudantes como
máquinas complexas de estímulo-resposta. Nem podemos adotar uma metodologia
construtivista, que trata os estudantes como organismos que se adaptam ao meio
em que estão, usando conceitos como meras ferramentas para organizar a
experiência subjetiva. O cristianismo oferece a base para uma visão mais
sublime da natureza humana que qualquer outra cosmovisão que comece com forças
impessoais que operam por acaso.6
A visão bíblica da natureza humana também
é solidamente realística. A doutrina da queda nos ensina que as crianças são,
como todos nós, propensas ao pecado e necessitadas de orientação moral e
direção intelectual. Em conseqüência da queda, Deus deu revelação verbal que
nos permite ordenar a vida segundo verdades infinitas e universais, que, do contrário,
estariam indisponíveis a criaturas caídas e finitas. Os educadores cristãos não
aceitarão o otimismo do Iluminismo que diz que a razão simples, sem a revelação
divina, é capaz de alcançar uma visão divina do mundo. Nem aceitaremos a noção
romântica de que as crianças vêm para a terra naturalmente
inocentes,"arrastando nuvens de glória". Estas duas filosofias negam
a realidade da queda e geram métodos progressivos de educação que se abstêm de
ensinar aos estudantes o que é verdadeiro ou falso, o que é certo ou errado, e
esperam que eles descubram suas próprias "verdades".7
Redenção significa que o alvo da educação
é preparar os estudantes para assumir sua vocação em obediência ao mandato
cultural. Cada criança deve entender que Deus lhe deu talentos especiais para
fazer uma contribuição única para a tarefa da humanidade em inverter os efeitos
da queda e ampliar o senhorio de Cristo no mundo. Como escreveu o poeta John
Milton, a meta do aprendizado "é consertar as ruínas de nossos primeiros
pais".8 Para fazer isso, toda área de estudo deve ser ensinada
segundo uma perspectiva solidamente bíblica, de forma que os estudantes
entendam as interconexões entre as disciplinas e descubram por si mesmos que
toda a verdade é a verdade de Deus.
Ao mesmo tempo, devemos estar alerta
contra os falsos pontos de vista da redenção que formam várias teorias
educacionais hoje. Os proponentes de quase toda ideologia buscam ganhar uma
posição segura em sala de aula, porque sabem que a chave para moldar o futuro é
moldar a mente das crianças. Talvez tenhamos de agir defensivamente em relação
aos métodos de meditação e imagem dirigida da Nova Era aplicados em sala de
aula (redenção pelo cultivo de uma consciência mais alta); ou o abuso de
técnicas terapêuticas para que os estudantes mudem de atitude e se ajustem a
algum programa de trabalho progressivo (redenção por ajustes psicológicos); ou
programas de justeza política e multiculturalismo (redenção por políticas
esquerdistas).4 Muitos pedagogos já não definem que educar seja
ajudar os estudantes a aprender habilidades e obter conhecimento, mas
capacitá-los a alistar-se em causas sociais aprovadas. A medida que a cultura
americana se afasta de sua herança cristã, a sala de aula pública está se
tornando um campo de batalha para ideologias concorrentes, de forma que uma de
nossas tarefas mais importantes é ensinar os estudantes a identificar e
comentar criticamente as cosmovisões.
Reequipando a Família com
Ferramentas
Como a grade da criação, queda e redenção
nos oferece ferramentas para elaborar um conceito bíblico da família? Na
qualidade de instituição social básica, a família funciona de laboratório para
numerosas experiências sociais.Todo visionário político sonha com um esquema
que reequipe a família com novas ferramentas, abolindo-a completamente em prol
de ou um estatismo radical ou um individualismo radical.
O estatismo é um tema recorrente desde o
surgimento da cultura cidental. Até certo ponto surpreendente, o pensamento
político e social ocidental é hostil ao papel da família no que propõe ser a
sociedade ideal. Os intelectuais seculares desde Platão, Rousseau, B. F.
Skinner a Hilary Clinton se encantam com a idéia de pôr a criança diretamente
aos cuidados do Estado e não da família.
Para nos opormos a tais esquemas utópicos,
temos de começar com a criação. A doutrina bíblica da criação fala que a
família é o padrão social que é original e inerente à natureza humana. É
normativa para todos os tempos e todas as situações históricas. Embora haja
variedade nos detalhes, a natureza essencial da família não pode ser remodelada
à vontade. Todo esquema utópico que busque lançar a família na lata do lixo da
história estará trabalhando contra a própria natureza humana.
Os utopistas que negam a criação também
rejeitam a queda, rejeitando totalmente a idéia de que a natureza humana é
corrupta e propensa ao mal. Em vez disso, redefinem todos os problemas sociais
como desordens temporárias que podem ser solucionadas pela educação e
engenharia social. "Os utopistas são motivados pelo desejo de superar os
efeitos da queda sem confiar na redenção divina", escreve Bryce
Christensen em Utopia
Against the Family (Utopia contra a Família).
"A maioria dos utopistas deseja ser como deus' (ver Gn 3.5) pela
obstinação e engenharia humana, e não pelas bênçãos dos céus."1"
Assim, nasce uma imagem sedutora de
redenção pela criação de um novo jardim do Éden, um retorno ao estado original
de inocência. No famoso romance de B. F. Skinner, Walden II, o fundador
descreve que sua comunidade utópica é "uma melhoria do
Gênesis"."
De modo irônico, quase que toda tentativa
histórica de melhorar o Gênesis terminou em um estado coercitivo e totalitário.
Por quê? Porque, ao contrário da visão utópica, o pecado é real e não pode ser
simplesmente manejado fora da existência. Por isso, o Estado sempre tem de
forçar as pessoas a cumprir seus esquemas utópicos. A destruição da família
é mera ferramenta para aumentar o poder do governo sobre os indivíduos,
eliminando lealdades concorrentes, no esforço de criar submissão total ao
Estado. Para defender a família contra programas estatistas de trabalho,
precisamos argumentar de maneira incisiva que só o drama bíblico da criação,
queda e redenção oferece um relato realístico e humanitário da natureza humana
e da estrutura e propósito da família na sociedade."
REFERÊNCIA:
PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o Cristianismo de
seu Cativeiro Cultural. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p. 139-147.