Quando
se utiliza o termo “fé” ou “crença” para algum posicionamento cristão em
ambientes acadêmicos ou mesmo em discussões corriqueiras sobre temas que
envolvem dados históricos, científicos e filosóficos, ainda é comum a noção
equivocada de que a fé dispensa qualquer explicação racional para sua apresentação,
tendo em vista a não percepção de que existe distinção entre fé e fideísmo.
Como posição teológica que despreza a razão e recomenda a estrita fundamentação
da verdade na fé, o fideísmo se esquiva de argumentações que apoiem a crença e
despreza os exercícios racionais para a fé cristã. Aqui se estabelece um problema
que contradiz o próprio fideísmo: ele é apresentado a partir do uso da razão
para dizer que a razão não alcança as questões de fé elaboradas racionalmente
porque foram pensadas. E um outro erro comum está no exagero de colocar todas
as afirmações da metafísica cristã no fideísmo, que em suma seria “a fé na fé”.
Há muitos cristãos que não se conformam com a frase “creio porque creio” e
buscam os dados relevantes nas áreas do saber que apoiam com evidências suas
crenças. Como exemplo, temos o estudo da origem do universo e do homem,
notadamente exposto nas vertentes criacionista e evolucionista.
As
características que são encontradas em Deus, por exemplo, são percebidas por
aqueles que se dispõem a isso, tanto por Sua revelação na criação, na
consciência humana, na Bíblia Sagrada e em Jesus Cristo. Quando o argumento
cosmológico para a existência de Deus apresenta uma causa para a origem do
universo – as premissas (1) tudo que começa a existir tem uma causa; (2) o
universo começou a existir, e (3) o universo tem uma causa – o cientista se
arvora em dizer que essa causa é simplesmente algo, e não Deus. Mas, assim como
é confortável para o cristão colocar Deus no lugar de ALGO, é confortável
para o cientista colocar o ALGO no lugar de Deus. Porém, quando desconhecemos
qualquer argumento a favor de qualquer coisa, é coerente buscarmos conhecer. Pela
própria característica da transcendência, a existência de Deus pode não ser “provada”
cientificamente na medida em que se pudesse ser provada plenamente, Deus não
seria transcendente, mas, reduzido à esfera física, ou reduzido à explicação
que se dá dEle. Porém, essa existência pode ser sugerida ou apreendida
por evidências. As chamadas evidências do ALGO a que denominamos Deus podem
perfeitamente ser encontradas nos indícios ou “pistas” deixados por Ele mesmo.
De
fato, a verdadeira ciência (pois é possível falar de uma “ciência falsa” na
medida em que ela não se atém à sua competência arvorando autoridade sobre o
que foge à sua dimensão de estudo) não podendo opinar sobre aquilo que não é
próprio da sua competência, como por exemplo o sobrenatural, está restrita a
apresentar os dados indicativos para o que se coloca além dela. Vejamos o caso
das asserções feitas pelos estudos acerca do Designer Inteligente, do criacionismo
científico e outros dados científicos que indicam um projetista por trás do
projeto. Os dados científicos apresentados nessas argumentações não podem
afirmar ou "provar" a existência de Deus, dando, porém, indícios de
algo que não pode ser alcançado pelo método científico, pois esse algo está
além do natural, e é por isso chamado de sobrenatural.
CIÊNCIA E PSEUDOCIÊNCA
Parece
também insensato, ou mesmo desleal para com o próprio meio científico, algum
pesquisador ou cientista chamar de pseudociência as descobertas ou constatações
científicas que não se alinham ao compromisso intelectual assumido, como fazem
certos defensores do evolucionismo. Em casos como esse, é preciso considerar a
definição correta de ciência, do que seria a verdadeira ciência e a falsa
ciência. Uma verdadeira ciência é aquela que, atenta aquilo que estabelece como
objeto de estudo, sistematiza seu conhecimento adquirido por intermédio de
pesquisa restrita a um método de observação e que identifica, por esta via,
categorias próprias do fenômeno, e com base em todo esse procedimento pode
formular seu conhecimento racionalmente. Veja que, na definição que expus,
expressões como “método de observação” e “categorias próprias do fenômeno” são
extremamente relevantes pois sem a “observação do fenômeno” não se pode falar
em “ciência”. Em tempo: fenômeno é algo que pode ser observado na natureza e
descrito ou explicado cientificamente.
Quando
um evolucionista critica o criacionista por este promover o criacionismo como
um fato, o criacionista pode devolver a crítica na medida em que o
evolucionismo promove a macroevolução como um fato, embora não haja observação
desse pretenso fenômeno[1]. Mas o cientista
evolucionista não gosta de ser taxado de crente, embora tenha fé nessa teoria e
exponha suas crenças disfarçadas de ciência. Conforme vemos, há um certo
proselitismo do naturalismo com um quê
religioso por trás de suas ideias. A propósito, não é infame defender aquilo
que se acredita se honestamente os dados para a possibilidade da crença forem
apresentados.
Vejamos,
por exemplo, o caso do Designer Inteligente: as constantes antrópicas, as leis
precisas e os movimentos harmônicos do planeta e de seus objetos (como o nível
de oxigênio, transparência atmosférica, interação gravitacional, nível de
dióxido de carbono, gravidade, o tamanho da terra, inclinação do eixo,
distância exata da lua, complexidade de uma folha, complexidade do olho humano,
etc.) indicam um projetista inteligente por trás do projeto. Mas, o ateu
sempre indicará uma outra via para tentar explicar esses fatos, admitindo
inteligência por trás ou não (como Richard Dawkins e seu relojoeiro cego), ou sugerindo o acaso, mesmo com uma probabilidade
praticamente zero de que todas as mais de cem constantes antrópicas pudessem
ser como são na ausência de inteligência. As "evidências" que
normalmente são apresentadas para a teoria da evolução dizem respeito a
microevolução, que é observável mas não atesta mudança de uma espécie para
outra, apenas variação dentro de uma mesma espécie. Já a macroevolução não tem
evidência. Por este fato, os evolucionistas, na verdade, são crentes.
FENÔMENOS ESTRANHOS,
CRUELDADE DA NATUREZA
Evolucionistas
podem apresentar como argumento contrário ao Designer Inteligente os fenômenos
da natureza como raios e tremores de terra, sugerindo certo desequilíbrio no
sistema natural. Porém, ao contrário da indicação dum abandono do Designer Inteligente
a essas causas, tais questões funcionam como forte apoio ao designer.
No
caso dos raios, que muitas vezes destroem, conforme explica Geisler e Turek
(2006) temos o seguinte dado: Se a taxa de descarga atmosférica (raios) fosse
maior, haveria muita destruição pelo fogo, mas se fosse menor, haveria pouco
nitrogênio se fixando no solo; referente aos tremores de terra, se houvesse
mais atividade sísmica, muito mais vidas seriam perdidas, e se houvesse menos,
os nutrientes do piso do oceano e dos leitos dos rios não seriam reciclados de
volta. Nesses dois casos, temos um forte indício de Design (projeto) e Designer
(projetista).
Amparados
no questionamento de Darwin à “crueldade” da natureza (pois ao observar uma mosca
injetar seus ovos numa lagarta viva para que elas se alimentassem das
entranhas, Darwin se perguntou como um Deus bom poderia fazer uma criatura tão
cruel), evolucionistas repetem o argumento da maldade no mundo como “prova” da
inexistência de Deus. No entanto, o que os exemplos de natureza biológica fazem,
na verdade, é confirmar as leis de equilíbrio do sistema, como a cadeia
alimentar e seu nível trófico[2] (do grego trophe, alimento ou nutrição). Se Darwin
questionou Deus por sua “crueldade” à uma lagarta, isso atesta a percepção
reducionista que ele tinha de Deus. É simplista reduzir a explicação daquilo
que não entendemos à inexistência de Deus. Há aqueles que ampliam essa ideia em
casos como a perda de um ente querido. Mas, em vez de buscar compreender essas
coisas a partir do transcendente, o naturalista será coerente com a visão de
mundo materialista que acatou.
Vejamos
que a ciência tenta entrar na seara alheia, naquilo que não é de sua
competência, por querer entender o propósito
de determinadas ações do Designer. Critica um Criador que pouco se importa com
a média de pessoas que morrem vítimas dos fenômenos naturais criados por ele, e
por não entender o propósito, joga
tal Criador para o confortável conceito de inexistência. Há algo chamado propósito no pensamento teísta que a
ciência não pode alcançar por ser metafísico e estar fora da alçada científica.
As lacunas no entendimento de como o universo funciona tem inspirado cada vez
mais os cientistas em busca de respostas, mas eles só podem responder COMO as
coisas funcionam e não PORQUE. Um olhar natural tentando compreender o
sobrenatural sempre será falho.
COMPLEXIDADE, ADAPTAÇÃO E
ESPECIAÇÃO
Dizem os evolucionistas que a complexidades da vida não seria
indicação de uma mente inteligente, mas que as complexidades evoluíram por
adaptações, clima, mutação, etc, e que nos estudos elementares de biologia isso
já está posto como ciência. Na verdade, estudantes medianos de biologia não
sabem que existe diferença entre micro e macroevolução. Então, não sabem que essa
explicação da complexidade evoluída por adaptação não prova a macroevolução.
Aliás, nada prova a macroevolução. A genética, especiação, adaptação, etc,
indica a evolução dentro de uma mesma espécie, nunca fora. O mecanismo de especiação, que são múltiplas divisões
consecutivas de uma espécie, mostra a capacidade de adaptação limitada, de
empobrecimento genético, redução de variabilidade e, em consequência, um maior
risco de extinção pois os ciclos reprodutivos não se ajustam e impedem o
sucesso na reprodução (como exemplo, tem-se a mula, que é resultante do
cruzamento entre o jumento e a égua, sendo estéril). Algo totalmente contrário
à teoria da evolução, pois o que ocorre, na verdade, são involuções.
GENES E HOMOLOGIA
Os
evolucionistas também utilizam a genética para “atestar” sua teoria. Costumam
citar o fato da semelhança genética entre o homem e o chimpanzé de 99%, embora
revistas científicas como a Science já
tenham mostrado em artigos que tal dado está errado, além de outros estudos
científicos revelarem conclusões diferentes. Porém, conforme a pesquisa que o
Projeto Genoma divulgou, os homens e os ratos compartilham a imensa maioria de
genes. Segundo a pesquisa, as duas espécies (homem e rato) possuem 30 mil
genes, tendo apenas 300 que os diferenciam. Ou seja, considerando as grandes
diferenças que observamos entre as espécies distintas, os genes não são os
únicos fatores que se podem utilizar para determinar nossas semelhanças, e,
consequentemente, sugerir uma dependência evolutiva dos símios.
Quanto
à homologia, um estudo que também é retorcido pelos evolucionistas por indicar
semelhanças entre as estruturas de diferentes organismos sugerindo
ancestralidade comum entre organismos diferentes, sabemos que ela, na verdade,
demonstra um plano comum ou uma estrutura básica que é estabelecida por um
Criador, como o traço, o estilo de um mesmo artista, de um mesmo designer.
Assim, a homologia também é mais um indício a favor do criacionismo, e não do
evolucionismo.
FÓSSEIS, BILHÕES DE ANOS
E ELO PERDIDO
O que os evolucionistas costumam citar como provas são
apenas teorias, não evidências. Na teoria é fácil especular. Especular,
inclusive quanto aos fósseis. Historicamente, os fósseis apresentados como
“provas”, cedo ou tarde são comprovados como fraudes, e aqui poderia ser citado
uma lista, incluindo o “Australopithecus”, o “homo erectus”, o “homem de
Piltdown”, o “homem de Nebrasca”, o “homem de Neandertal” e “Lucy”. Deixarei
que o leitor faça sua própria pesquisa sobre essas fraudes. Faço referência
apenas a “Lucy”, tendo em vista ser a “prova” mais famosa que os evolucionistas
arvoram. Em 2015, o site de pesquisa Google
homenageou esse esqueleto que é colocado no rol dos fósseis “confiáveis”, sendo
que ele é bem questionado pela própria comunidade científica, como
provavelmente um macaco extinto com o parentesco de gorilas ou chimpanzés. Não
se sabe, portanto, de algum fóssil que “prove” a evolução.
Como
temos visto, os fósseis que poderiam sugerir a evolução das espécies, são pseudofósseis.
Mas há também outros pseudofósseis. Lourenço (2007) explica que pseudofósseis são
padrões visuais encontrados em rochas produzidos por processos geológicos e não
biológicos (como a “Ágata de musgo”, parecido com as folhas das plantas). As
evidências dos registros fósseis também passam por conceitos errôneos sobre a
formação desses fósseis, como fatores que possibilitem a preservação do
organismo contra fatores que podem inibir a sua preservação (ex. decomposição
orgânica, ambiente com pouco oxigênio, etc.). E também, as informações contidas
nos fósseis estão geralmente ligadas à história da morte do organismo e não
necessariamente sobre como ele teria vivido. Um olhar atento sobre a
paleontologia e a geologia deve considerar essas e outras questões, pois não há
base científica, observada diretamente da geologia, para a evolução das
espécies. Há base para dizer que houve variação, adaptação e extinção entre as
espécies, mas uma evolução contínua não é observada.
O
próprio Charles Darwin perguntou por que cada formação geológica e cada camada
não estava repleta de elos intermediários. A geologia não revela tal cadeia
orgânica finamente graduada, o que abre espaço para as objeções sérias
levantadas contra a teoria da evolução. E, aí, o The Washington Post Weekly
concluiu: “Se não é o registro fóssil que está incompleto, então deve ser a
teoria [evolucionista]”.
Quanto a macroevolução, evolução de uma espécie para
outra, como não há provas observáveis, sua prova costuma ser jogada para os bilhões
de anos e as longas eras, isto é, o apoio está no mito dos bilhões de anos que
não podem ser observados, apenas sugeridos. Nesse sentido, o cientista precisa
ter fé, acreditar na sua teoria, e portanto, cair na mesma crítica que faz à
religião. Afinal, onde está o “elo perdido”? Na macroevolução ocorrida nos
bilhões de anos? O elo perdido já é uma expressão simbólica para “o calcanhar
de Aquiles” da evolução, pois, qualquer tentativa de resposta para a
macroevolução terá que recorrer ao fator “tempo não visto a olho nu”. É confortável
colocar a “prova” da evolução para os bilhões de anos, para a teoria.
CONCLUSÃO
Entre evolucionistas e criacionistas há uma incessante
discussão, e para cada argumento apresentado de uma vertente haverá uma contra
argumentação da outra. As discussões não se esgotam e muitas vezes, de ambos os
lados, saem de um apoio nas argumentações científicas para propostas teóricas
especulativas. Essas discussões são motivadas pela vontade e pela crença. Como
bem escreveu Philip E. Johnson, um dos pioneiros do movimento Designer
Inteligente: “Aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto de crenças
é, na verdade, um verdadeiro crente em outro conjunto de crenças”. Ao escrever
com uma proposta parcial em favor da uma vertente de conhecimento aliada à uma
crença, deve-se ter o cuidado de expor argumentos que podem ser verificados
pela área de conhecimento específica, afim de não cair puramente na fé ou
fideísmo.
O
cientista cético sempre fica com uma “pulga atrás da orelha” diante do
princípio antrópico. O cristão, diante do mesmo princípio, se vê diante de duas
grandezas: a cosmológica e a metafísica. Na proposta de Pascal, o ser humano é
um ser miserável, mas ele é capaz de SABER de sua condição. O ser humano é um
simples galho, mas é um galho que PENSA. “Pelo espaço o universo me engloba e
engole como um grão de pó; mas pelo pensamento eu abranjo o universo”.
REFERÊNCIAS
TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser
ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006.
LOURENÇO, Adauto. Como
tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos Campos, SP:
Editora Fiel, 2007.
[1]
A macroevolução é a ideia de mudança de uma espécie para outra, algo não
observado, nunca visto pela ciência. A microevolução, porém, como mudanças
dentro de uma mesma espécie, é observada. Como exemplos de microevolução podemos
indicar a cor da pele e dos olhos.
[2]
Os animais e vegetais que possuem os mesmos hábitos alimentares integram o
mesmo ecossistema. Existem três níveis tróficos: produtores – autótrofos
(bactérias, algas e plantas), consumidores – heterótrofos (animais e
fungos) e decompositores (bactérias, fungos e protozoários). Estes
últimos decompõem a matéria orgânica em sais minerais, água e dióxido de
carbono para serem reutilizados pelos produtores, ou seja, fazendo reciclagem e
promovendo o equilíbrio do sistema.