Freqüentemente somos abordados por pessoas que fizeram ou estão fazendo o curso Rhema (a grade curricular normalmente segue as matérias do Centro de Treinamento Bíblico Rhema Brasil) que reforça o pensamento positivo a partir de textos bíblicos, e tem como base os escritos de Kenneth Hagin.
Uma das características das pessoas que estão tendo contato com esses ensinos é a imaginação de que “agora sim” estão conhecendo a verdade, mesmo depois de anos que aceitaram a Jesus, como se a revelação da Palavra de Deus só se tornasse possível sob a perspectiva desse seguimento evangélico atual.
Só pra se ter uma idéia, no arcabouço desses ensinos é visto alguns equívocos facilmente refutáveis. Vou enumerar seis deles:
1. “Fé na sua fé”. Estranho? Mas é isso mesmo. Eles ensinam que você deve ter fé em suas palavras, aí você terá fé em sua fé. E isso baseado em Marcos 11.23. REFUTAÇÃO: È só ler o versículo anterior, o 22. “Tende fé em Deus”. A fé deve ser depositada em Deus e não em nós mesmos.
2. “A fé do tipo de Deus”. Cuidado, eles podem dizer que o vers. 22 se traduz corretamente “tende a fé do tipo de Deus” como se Deus precisasse de fé. REFUTAÇÃO: O substantivo “Deus” é o objeto da fé e não o sujeito da fé, ou seja, “Não se trata da fé que Deus tem, e, sim, da fé da qual Deus é o objeto”. E isso está de acordo com o original ‘Echete pistin theou’.
3. “E tudo quanto exigirdes em meu nome”. Essa é a interpretação que Hagin faz de Jo 14.13. Assim, o crente não pede, mas exige de Deus, em nome de Jesus. REFUTAÇÃO: o verbo ‘pedir’ dessa passagem, de acordo com o termo grego original ‘aiteo’, significa pedir mesmo. Esse verbo sempre aparece no Novo Testamento com a idéia de súplica (Mt 7.7,11; Ef 3.20; Tg 1.5; I Jo 5.14,15).
4. “Jesus morreu espiritualmente e recebeu a natureza de Satanás”. Dizem que o sacrifício de Jesus para ser completo tinha que ter morte espiritual, além de física, e a serpente levantada por Moisés no deserto era a representação da natureza de Satanás em Jesus. REFUTAÇÃO: a Bíblia não fala sobre essa suposta morte espiritual em lugar nenhum, pode procurar. A alusão a serpente, do texto de Jo 3.14 se refere ao tipo de morte (ele foi levantado no madeiro, como Moisés levantou a serpente,). O texto de I Pe 3.18 diz claramente que Jesus foi “mortificado na carne”, e, além disso, Jesus foi o cordeiro imaculado (Hb 9.14; I Pe 1.19).
5. “O crente não deve adoecer”. Baseiam-se no texto de Isaias 53.4,5 para argumentar que nós fomos sarados e o crente não deve adoecer mais. REFUTAÇÃO: O texto de Isaias diz respeito à cura espiritual, é só ler o contexto. E Pedro ainda explica que a cura é espiritual mesmo (I Pe 2.24,25). Através de Paulo muitos foram curados (At 19. 11,12), porém alguns textos sugerem problema físico em Paulo (Gl 4.13,14; 6.11; II Co 12.7), em Timóteo (I Tm 5.23) e em Trófimo (II Tm 4.20). Porque Paulo não os curou e também a si mesmo? Porque a soberania divina está acima de qualquer benção material e física, e Deus sabe o que é melhor para cada um de nós (Rm 8.28; II Co 12.9). Só a título de curiosidade: Kenneth Hagin passou seis semanas com cardiopatia, além das dores de cabeça e de outros sintomas que vieram depois de ser curado.
6. “O crente não deve ser pobre”. Um texto famoso que eles usam é Mc 10.30, dando ênfase a expressão “... que não receba cem vezes tanto”, assim o crente deve receber casas e campos cem vezes mais, se derem ao Senhor suas propriedades. Outros textos usados são os que falam de suprimento e prosperidade como Fl 4.19 e 3 Jo 2. REFUTAÇÃO: Se o texto de Mc 10.30 fosse aplicado literalmente, qualquer pessoa que desse um carro para a Igreja, receberia uma frota automaticamente, se desse uma casa, receberia um condomínio com cem casas, e assim por diante. Porém...
A família de Jesus era pobre (Lc 2.24; Lv 12.8), na igreja de Corinto havia crentes pobres (I Co 11.22), na Galácia também (Gl 2.10) e Pedro disse ao paralitico que não tinha “prata nem outro” (At 3.6). Os textos bíblicos que falam de prosperidade nem sempre estão se referindo a riquezas, como é o caso de 3 Jo 2: “...faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”.
CONCLUSÃO:
Creio que estas simples refutações, porém profundas, são suficientes para deixar um crente sincero apto a questionar os proponentes da fé, quando eles vierem com aquele ar de detentores da verdade. Finalizo, reproduzindo as palavras de Charles H. Spurgeon: “O antigo pacto era um pacto de prosperidade. O novo pacto é um pacto de adversidades, mediante o qual estamos sendo desmamados deste mundo presente e nos preparando para o mundo vindouro”.
OBS: Utilizei os seguintes livros como consulta para esta postagem: Cristianismo em Crise, de Hank Hanegraaff (CPAD), e Super Crentes, de Paulo Romeiro (Mundo Cristão), além da Bíblia Sagrada (RC, de 1969).