sábado, 30 de janeiro de 2010

Refutações: Confissão Positiva e “Teologia” da Prosperidade


Freqüentemente somos abordados por pessoas que fizeram ou estão fazendo o curso Rhema (a grade curricular normalmente segue as matérias do Centro de Treinamento Bíblico Rhema Brasil) que reforça o pensamento positivo a partir de textos bíblicos, e tem como base os escritos de Kenneth Hagin.
Uma das características das pessoas que estão tendo contato com esses ensinos é a imaginação de que “agora sim” estão conhecendo a verdade, mesmo depois de anos que aceitaram a Jesus, como se a revelação da Palavra de Deus só se tornasse possível sob a perspectiva desse seguimento evangélico atual.
Só pra se ter uma idéia, no arcabouço desses ensinos é visto alguns equívocos facilmente refutáveis. Vou enumerar seis deles:
1.       Fé na sua fé”. Estranho? Mas é isso mesmo. Eles ensinam que você deve ter fé em suas palavras, aí você terá fé em sua fé. E isso baseado em Marcos 11.23. REFUTAÇÃO: È só ler o versículo anterior, o 22. “Tende fé em Deus”. A fé deve ser depositada em Deus e não em nós mesmos.

2.      A fé do tipo de Deus”. Cuidado, eles podem dizer que o vers. 22 se traduz corretamente “tende a fé do tipo de Deus” como se Deus precisasse de fé. REFUTAÇÃO: O substantivo “Deus” é o objeto da fé e não o sujeito da fé, ou seja, “Não se trata da fé que Deus tem, e, sim, da fé da qual Deus é o objeto”. E isso está de acordo com o original ‘Echete pistin theou’.


3.      E tudo quanto exigirdes em meu nome”. Essa é a interpretação que Hagin faz de Jo 14.13. Assim, o crente não pede, mas exige de Deus, em nome de Jesus. REFUTAÇÃO: o verbo ‘pedir’ dessa passagem, de acordo com o termo grego original ‘aiteo’, significa pedir mesmo. Esse verbo sempre aparece no Novo Testamento com a idéia de súplica (Mt 7.7,11; Ef 3.20; Tg 1.5; I Jo 5.14,15).

4.      Jesus morreu espiritualmente e recebeu a natureza de Satanás”. Dizem que o sacrifício de Jesus para ser completo tinha que ter morte espiritual, além de física, e a serpente levantada por Moisés no deserto era a representação da natureza de Satanás em Jesus. REFUTAÇÃO: a Bíblia não fala sobre essa suposta morte espiritual em lugar nenhum, pode procurar. A alusão a serpente, do texto de Jo 3.14 se refere ao tipo de morte (ele foi levantado no madeiro, como Moisés levantou a serpente,). O texto de I Pe 3.18 diz claramente que Jesus foi “mortificado na carne”, e, além disso, Jesus foi o cordeiro imaculado (Hb 9.14; I Pe 1.19).

5.       “O crente não deve adoecer”. Baseiam-se no texto de Isaias 53.4,5 para argumentar que nós fomos sarados e o crente não deve adoecer mais. REFUTAÇÃO: O texto de Isaias diz respeito à cura espiritual, é só ler o contexto. E Pedro ainda explica que a cura é espiritual mesmo (I Pe 2.24,25). Através de Paulo muitos foram curados (At 19. 11,12), porém alguns textos sugerem problema físico em Paulo (Gl 4.13,14; 6.11; II Co 12.7), em Timóteo (I Tm 5.23) e em Trófimo (II Tm 4.20). Porque Paulo não os curou e também a si mesmo? Porque a soberania divina está acima de qualquer benção material e física, e Deus sabe o que é melhor para cada um de nós (Rm 8.28; II Co 12.9). Só a título de curiosidade: Kenneth Hagin passou seis semanas com cardiopatia, além das dores de cabeça e de outros sintomas que vieram depois de ser curado.

6.      O crente não deve ser pobre”. Um texto famoso que eles usam é Mc 10.30, dando ênfase a expressão “... que não receba cem vezes tanto”, assim o crente deve receber casas e campos cem vezes mais, se derem ao Senhor suas propriedades. Outros textos usados são os que falam de suprimento e prosperidade como Fl 4.19 e 3 Jo 2. REFUTAÇÃO: Se o texto de Mc 10.30 fosse aplicado literalmente, qualquer pessoa que desse um carro para a Igreja, receberia uma frota automaticamente, se desse uma casa, receberia um condomínio com cem casas, e assim por diante. Porém...

A família de Jesus era pobre (Lc 2.24; Lv 12.8), na igreja de Corinto havia crentes pobres (I Co 11.22), na Galácia também (Gl 2.10) e Pedro disse ao paralitico que não tinha “prata nem outro” (At 3.6). Os textos bíblicos que falam de prosperidade nem sempre estão se referindo a riquezas, como é o caso de 3 Jo 2: “...faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”.

CONCLUSÃO:
Creio que estas simples refutações, porém profundas, são suficientes para deixar um crente sincero apto a questionar os proponentes da fé, quando eles vierem com aquele ar de detentores da verdade. Finalizo, reproduzindo as palavras de Charles H. Spurgeon: “O antigo pacto era um pacto de prosperidade. O novo pacto é um pacto de adversidades, mediante o qual estamos sendo desmamados deste mundo presente e nos preparando para o mundo vindouro”.
OBS: Utilizei os seguintes livros como consulta para esta postagem: Cristianismo em Crise, de Hank Hanegraaff (CPAD), e Super Crentes, de Paulo Romeiro (Mundo Cristão), além da Bíblia Sagrada (RC, de 1969).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

TEM SABOR DE MEL, TEM SABOR DE MEL



A Bíblia Sagrada nos adverte em Provérbios 22.3 que “O avisado vê o mal, e esconde-se; mas os simples passam, e sofrem a pena.” , e ainda “O sábio teme, e desvia-se do mal, mas o tolo encoleriza-se, e dá-se por seguro” Pv 14.16.

Como alguém que tem buscado primar pela doutrina genuinamente cristã, tenho me direcionado para o campo da apologética, uma tarefa no mínimo árdua nos dias de hoje, onde cada vez mais se multiplica as inovações carregadas de heresias dentro de nossos templos.

Esta música Sabor de Mel, muito cantada em nossos cultos evangélicos, está carregada de expressões heréticas e que transmitem sentimentos estranhos à conduta cristã.

Inclusive, já conversei com alguns irmãos que poderiam orientar melhor aqueles que, de forma ingênua, estão cantando estas coisas, além de conversar também com as pessoas responsáveis por colocar músicas com temáticas positivistas e com teor de auto-ajuda, em detrimento de músicas que falem sobre a essência do Evangelho. Infelizmente, muitos preferem insistir no erro, como os versículos de Provérbios citados acima, por razões que não poderiam sobrepujar a primazia da genuína Palavra de Deus.

Mas, quais são as expressões equivocadas encontradas nesta música?

1.      “Vão dizer que você nasceu pra vencer”

Ora, o homem não nasceu pra vencer, ele nasceu pra perder, porque nasceu em pecado {Sl 51.5}, e o salário do pecado é a morte {Rm 6.23}. Se somos vencedores hoje, somos vencedores “... por aquele que nos amou” {Rm 8.37}.

Quando a Bíblia fala sobre o crente vitorioso, sempre associa a nossa luta contra os desejos carnais, o mundo e o diabo {Ef 4.27; 6.12; Tg 4.7; I Jo 2.15-16; 4.4; 5.4}, e a nossa vitória é sempre “... por nosso Senhor Jesus Cristo” {I Co 15.57}, e não por nossa capacidade {II Co 3.5}.

2.    “Que já sabiam por que você tinha mesmo cara de vencedor”.

Uma expressão muito comum nos livros de auto-ajuda. Augusto Cury, um dos escritores mais expressivos desse seguimento, tem alguns livros que reforçam essa idéia. Por exemplo: Você é Insubstituível e Nunca Desista de Seus Sonhos.

Existe um livro intitulado O Segredo das Mentes Vencedoras que, na sua propaganda diz: “O verdadeiro sucesso ocorre em três dimensões (física, mental e espiritual). Qualquer pessoa no mundo é capaz de atingi-lo, desde que se prepare para isso e que acredite que nós, seres humanos, nascemos para vencer”.

Ou seja, está sugerindo que o ser humano pode ser vencedor sozinho, sem a Ajuda do Alto.

3.    “Quem te viu passar na prova e não te ajudou, quando ver você na bênção vão se arrepender”.

A idéia aqui apresentada é de crentes que vivem se engalfinhando. São duas situações: Primeiro - alguns crentes vêem outros passando dificuldades e não fazem nada pra ajudar porque pensam “quero só ver esse crente sofrer”. Segundo - o crente que está passando lutas pode pensar “estou sofrendo e esses irmãos não me ajudam, mas eles vão ver só, quando eu estiver na bênção vão ficar arrependidos”, em outras palavras: “me vinguei”.

Parece que quem canta essa música não conhece as palavras de Jesus “... orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” {Mt 5.44}. E as palavras de Paulo “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. {Rm 12.19}.

4.    “Vai estar entre a platéia e você no palco”.

Essa é uma comparação descabida de senso litúrgico do culto cristão. É uma frase que aproxima a liturgia dos cultos a um show. A igreja agora está sendo comparada a um teatro, a uma casa de espetáculo ou coisa parecida, onde existem os artistas que se apresentam e os convidados que com seus ingressos podem assistir ao espetáculo.

O termo “culto” significa adoração ou homenagem à divindade, ou seja, em nosso caso Deus é quem deve ser louvado, honrado e adorado. A estrela do culto cristão é a resplandecente estrela da manhã, Jesus {Ap 22.16}.

5.     “Mas minha vitória hoje tem sabor de mel, tem sabor de mel, tem sabor de mel, a minha vitória hoje tem sabor de mel”

Esse refrão isolado não sugere perigo algum, mas ele está inserido no contexto das demais expressões acima. E a repetição exagerada reforça a idéia de vingança, como se dissesse: “veja meu irmão inimigo {se é que pode}, eu venci, eu venci, veja, me vinguei”.

CONCLUSÃO:

Vamos ter mais cuidado com aquilo que cantamos e ensinamos na Igreja, principalmente aos novos convertidos.

PARA MEDITAR E DESCONTRAIR:

“Achaste mel? come o que te basta; para que porventura não te fartes dele, e o venhas a vomitar.” {Pv 25.16}.

“Comer muito mel não é bom; assim a investigação da própria glória não é glória.” {Pv 25.27}.

Por Cláudio Ananias

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Victor Hugo – A oração



Observem que abordagem interessante sobre a oração, extraído do famoso romance francês de Victor Hugo, Lés misérables


“Eles oram.

A quem?

A Deus.

Orar a Deus, o que isto quer dizer?

Há um infinito fora de nós? Esse infinito é único, imanente, permanente, necessariamente substancial posto que é infinito e que, se lhe faltasse a matéria, ficaria limitado? Necessariamente inteligente, posto que é infinito e que, se lhe faltasse a inteligência, acabaria ali? Esse infinito desperta em nós a idéia de essência, enquanto que não podemos atribuir a nós mesmos senão a idéia de existência? Em outras palavras, não é ele o absoluto daquilo de que somos o relativo?

Ao mesmo tempo em que há um infinito fora de nós, não há um outro infinito dentro de nós? Esses dois infinitos (que horroroso plural!) não se sobrepõem um ao outro? O segundo infinito não é, por assim dizer, subjacente ao primeiro? Não é o seu espelho, seu reflexo, seu eco, abismo concêntrico a um outro abismo? Este segundo infinito também é inteligente? Pensa? Ama? Tem vontade? Se os dois infinitos são inteligentes, cada um deles tem um princípio de vontade, e há um eu no infinito de cima, do mesmo modo que há um eu no infinito de baixo. O eu de baixo é a alma; o eu de cima é Deus.

Colocar o infinito de baixo em contato com o infinito de cima, por meio do pensamento, é o que se chama orar.

Não retiremos nada ao espírito humano; é ruim suprimir. É preciso reformar e transformar. Certas dificuldades do homem dirigem-se para o Incógnito, o pensamento, a meditação, a oração. O Incógnito é um oceano. O que é a consciência? É a bússola do Incógnito. Pensamento, meditação, oração, essas são grandes irradiações misteriosas. Respeitemo-las. Para onde vão essas majestosas irradiações da alma? Para a sombra, quer dizer, para a luz.

A grandeza da democracia consiste em nada negar, nem nada renegar da humanidade. Próximo ao direito do Homem, pelo menos ao lado, há o direito da Alma.

Esmagar os fanatismos e venerar o infinito, tal é a lei. Não nos limitemos a prostrar-nos sob a árvore Criação e a contemplar seus imensos ramos cheios de astros. Temos um dever: trabalhar para a alma humana, defender o mistério contra o milagre, adorar o incompreensível e rejeitar o absurdo, não admitir, a respeito do inexplicável, senão o necessário, sanear a crença, tirar as superstições de cima da religião, livrar Deus das lagartas.

Quanto ao modo de orar, todos são bons, contanto que sejam sinceros. Virem seu livro ao contrário e estejam no infinito.” (Hugo, Victor. Os Miseráveis. São Paulo: Martin Claret, 2007. Páginas 497-498).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Bíblia Dake

Depois de ler vários artigos e postagens em blogs a respeito da Dake´s Annotated Reference Bible, agora editada no Brasil pela CPAD, fiquei curioso para conhecer de fato seu conteúdo. Ainda não adquiri uma, mas vou reproduzir as palavras do escritor americano Hank Hanegraaf sobre esta Bíblia. Estas palavras estão no livro Cristianismo em Crise, também editado pela CPAD.

“Também existem algumas Bíblias de estudo de qualidade questionável, que não recomendamos, como a Word Study Bible: Kenneth Copeland Reference Edition Bible e a Dake´s Annotated Reference Bible.

Talvez a pior coletânea de falsos ensinos seja a popular Dake´s Annotated Reference Bible. “Deus ... vai dum lugar para outro num corpo como o de todas as outras pessoas”, diz Dake. Ainda sobre Deus, Dake afirma que Ele é apenas um “ser de tamanho ordinário. Ele usa roupas... come... descansa... habita numa mansão, numa cidade localizada num planeta material chamado Céu.”

Logo na primeira página do Novo Testamento, Dake escreveu que Jesus “tornou-se o Cristo, ou seja, o ‘Ungido’, 30 anos depois de ter nascido de Maria”. Ora, qualquer pessoa que tenha cantado ou ouvido algum hino de Natal com fundamento bíblico está familiarizada com o trecho de Lucas 2.11, que diz: “Pois na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.” (HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em Crise. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. Página 327).