Com todo o respeito às amizades de pessoas próximas a mim, e que estão de alguma forma, envolvidos diretamente com o sistema político e com alguns políticos. Respeitando as divergências de opiniões relativas a este tema, por parte de algumas lideranças também próximas a mim, e considerando algumas falhas na condução de justificativas para a associação do cristão genuíno com esse sistema político que nos serve, resolvi produzir esse comentário para que, de uma forma mais objetiva, as pessoas saibam minha postura, a forma como tento me conduzir nesta temática a partir de princípios que desde minha tenra idade procurei seguir, e especialmente, desde que comecei a exercer o direito a mim conferido, de participar dos pleitos como eleitor.
Pelo menos três questões sempre são levantadas sobre este tema, tais como: A igreja evangélica necessita de representantes políticos? Há exemplos bíblicos de crentes na política? É correto um cristão ser político?
Vou dar meu parecer em três postagens, começando com a primeira pergunta:
· A igreja evangélica necessita de representantes políticos?
A igreja de Jesus, santa e imaculada, cresceu e desenvolveu-se sob o cuidado e a proteção única de Deus, mediante o poder e a operação específica do Espírito Santo. Os registros bíblicos e históricos comprovam isso. Nas perseguições que enfrentou, sempre recorreu à ajuda divina e a obteve (At 4.3-29; 5.18-20; 8.1-8; 12. 1-11; 14.22; 16.23-32; 21.13,14,27; etc.). O próprio Jesus instruiu os discípulos sobre a ajuda que receberiam do Espírito Santo nos momentos de perseguição (Mt 10.17-20; Jo 14.16-18).
No livro O Cristianismo Através dos Séculos, Earle E. Cairns coloca de forma elucidativa as perseguições enfrentadas no âmbito político, religioso, social e econômico, desde Nero indicando na Igreja o bode expiatório para o incêndio de Roma, passando pela interdição estatal da Igreja até as perseguições universais quando Diocleciano ordenou o fim das reuniões cristãs. E quais as conseqüências das perseguições enfrentadas? “... o sangue dos mártires era a semente da Igreja”1. A Igreja cresceu.
O Edito de Milão, promulgado por Constantino para favorecer a Igreja, numa tentativa de aproximá-la do Estado, tinha por trás problemas políticos enfrentados por ele. E depois, quando Teodósio I estabeleceu o cristianismo como a religião exclusiva do Estado, os membros da Igreja, mas não verdadeiros convertidos, acabaram por misturar seus padrões de vida e costumes com a doutrina cristã e assim a Igreja ficou paganizada.
A história da Igreja cristã nos alerta para as conseqüências da junção dos líderes religiosos com os poderes do Estado. A supremacia e o poder papal chegam ao ponto de confundir-se com a posição dos imperadores. Como exemplo, na sua obra O Príncipe, Maquiavel, ao dar conselhos ao Duque Lorenzo II, cita o papa Alexandre VI, que foi feito bispo e cardeal por seu tio, o papa Calisto III. Para chegar ao poder papal, Alexandre VI (ou Rodrigo Bòrgia) por ser riquíssimo, comprou votos dos cardeais e entrou para a história pela fama de seus crimes.2
Outros exemplos, extraídos ainda de O Príncipe, poderiam ser mostrados para indicar as aberrações que circundaram a Igreja durante muito tempo, em conseqüência da abertura desta para o poder do Estado, para as questões políticas que chamavam às questões econômicas e, por conseguinte, as questões sociais, onde, usando o nome da Igreja, muitos líderes religiosos tiveram atitudes extravagantes que vão desde corrupção a prostituição. Um verdadeiro caos moral que culminou com as cisões e com a Reforma Protestante.
Olhando para a história de Israel, o povo de Deus, vemos que em todo o percurso desse povo, em todas suas conquistas, quem os defendia e os guiava era o próprio Deus, não precisando o povo de confiar nos poderes humanos e falhos. A propósito, o castigo de Deus a Davi por ele ter enumerado as tribos, dá provas claras de que Deus não aceita a substituição de sua ajuda por auxílios falíveis, tais como quantidade. Por ocasião do cativeiro, mesmo em terras estranhas, Daniel e seus companheiros foram protegidos milagrosamente por Deus (Dn 1-6). E para a libertação do povo, o Senhor levantou até um rei gentio, o rei Ciro, que conduziu o Seu povo à liberdade (Is 44. 28; 45.1; Ed 1.2). Foi nessa confiança que o salmista declarou: “O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem” (Sl 118.6).
Trazendo a discussão para mais próximo de nós, com os primórdios do Evangelho no Brasil e a implantação das Assembléias de Deus no Nordeste e nas demais regiões brasileiras, vemos que a perseguição foi acirrada pelas autoridades induzidas pelos padres locais. No município de Ceará-Mirim, em 1930, Deus usou o governador Juvenal Lamartine, mesmo sem ser evangélico, para permitir que o evangelho fosse pregado em meio à perseguição3. Se confiarmos no Senhor, ele nos protege usando até o ímpio.
Há o argumento de que, como representante político, um crente pode defender a causa do evangelho, especialmente nas leis que tramitam contrárias à mensagem cristã. Porém, a morte de Jesus se deu por ele estar “contra a lei”. “Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.” (Jo 19.7). Paulo também foi perseguido por estar “contra a lei”. “Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei” (At 18.13). O apelo de Paulo a César não o tirou da prisão, apenas o permitiu pregar para o rei Agripa (At 26). Se a perseguição tiver que vir à Igreja evangélica brasileira, não serão os representantes evangélicos que impedirão. “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus” (I Pe 4.14). A censura e o desprezo sempre fizeram parte da história da Igreja e ela avançou por que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
Por outro lado, os candidatos eleitos não devem representar um segmento específico, mas a população em geral. Os projetos de lei nas diversas áreas como saúde, educação, transporte ou segurança pública, quando aprovado, deve trazer benefício às pessoas de todas as religiões.
Então, diante desses e de outros fatos bíblicos e históricos, não creio que a Igreja necessite ter representantes humanos e falíveis para defendê-la. Quem nos defendeu e nos defende até hoje, e sempre de forma milagrosa, é o Senhor Jesus, e nele sempre somos mais que vencedores (Rm 8.37; I Co 15.57). Afinal de contas, a Igreja não é uma simples organização humana e falível, somos o organismo vivo de Cristo, o corpo de Cristo, e Ele como cabeça, sabe nos conduzir (I Co 12.27; Ef 1.22,23; Cl 1.24).
A Igreja evangélica NÃO necessita de representantes políticos.
Aguarde a próxima e comente.
BIBLIOGRAFIA:
1CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995.
2MACHIAVELLI, Nicolo. O Príncipe. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
3ALMEIDA, Abraão de. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 1982. (Pág. 147).
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ResponderExcluirInegavélmente o artigo supra, é primordial ao auxilio espiritual de nossas vidas como verdadeiros e autênticos cristãos. O nosso querido, amigo e amado irmão Ananias (a qual tenho muito estima) trata com maestria o tema supracitado, que infelizmente tem corrompido a conjuntura atual do cristianismo, deturpando os valores e princípios basilares da jornada espiritual que o cristão deve seguir (não só os valores espirituais, como também a primazia do caráter humano, in verbis "Quem não tem caráter não é homem, é coisa." (Nicolas Chamfort) resumindo nosso posicionamento com esta célebre frase. Assim fica evidenciado no artigo em deslinde "A IGREJA DO SENHOR JESUS, NÃO PRECISA DE HOMENS FALÍVEIS, CORRUPTIVEIS E TENDENCIOSOS AO PECADO PARA TER SUA EXPANSÃO", sabemos pois que o crescimento qualitativo da igreja é sobretudo uma promessa de Cristo, por isso não é um fator político que irá influencia-lo ou diferencia-lo.
ResponderExcluirmeus sinceros votos de estima e apreço ao irmão Claúdio Ananias.
Paulo Augusto Pinheiro
O político e demais funções exercidas no âmbito da administração governamental (como seus secretarios, assessores, entre outros) são ocupações reconhecidas pela sociedade trabalhista, portanto dignos de receber seus proventos de acordo com suas respectivas contribuições. Com isso concluímos que os profissionais citados são trabalhadores e portanto devem receber o devido respeito pelos cargos exercidos como em qualquer outra profissão, por esse motivo não condeno os irmãos que porventura escolherem essa carreira.
ResponderExcluirA igreja é o local onde todos os trabalhadores (e demais membros) se reunem para adorar a Deus, inclusive os que trabalham e vivem da obra do Senhor. O nosso único anseio é este: adorar a Deus!
Mas ao término da adoração no templo e após o apagar das luzes, a vida continua e nada me impede de divulgar meu trabalho, minha empresa, os produtos ou os serviços que eu presto, a qualquer pessoa, inclusive aos irmãos, em locais onde eu tenha permissão e interessados na divulgação de meu trabalho, produtos ou serviços, como fazia Paulo com suas tendas (At 18.3). Quando o templo do Senhor se transforma em local para divulagação de outros interesses que não seja adoração, uma cena vem à tona: "E, entrando [Jesus] no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam, Dizendo-lhes: Está escrito: A minha casa é casa de oração." Lc 19.45,46.
Concordo em gênero, grau e número na opinião de Ananias, também creio que a Igreja não necessite de representantes e que um político deva defender o interesse de toda uma sociedade e não apenas de um restrito segmento. Há ainda o fato de que a política, principalmente a brasileira, seja uma área intensamente agressiva aos princípios cristãos e quem decide traçar por esse caminho terá trabalho dobrado para manter a fé sã.